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Você sabia que o ano judaico é diferente? Hoje os judeus estão no ano 5781. Mas, calma, nós não estamos no futuro. É que a contagem do calendário judaico diferencia-se do gregoriano por diversos fatores, que vão desde a quantidade de dias até o montante de “anos novos” presentes nele.

Para começarmos a entendê-lo, é preciso saber que o calendário judaico é lunissolar. Ou seja, ele se utiliza das fases da Lua para a contagem dos meses, e do Sol, para a contagem dos anos, a fim organizar as suas datas. O gregoriano, por sua vez, é exclusivamente solar. Essa, por si só, já seria uma tremenda mudança.

Além disso, tanto as festividades judaicas como as estações têm influência na organização do calendário, alterando, assim, a sua extensão de maneira drástica. Para se ter uma ideia, o ano judaico pode ter de 353 a 385 dias.

A explicação desta diferença de quase 10% entre eles é bem simples. O ano judaico tradicional tem, normalmente, 354 dias. No entanto, muitas de suas festividades têm períodos específicos do ano nos quais precisam ser comemoradas. Por exemplo, o Pessach (Páscoa judaica), tem que ser celebrado na primavera. Já o Rosh HaShana (ano novo civil) não pode ocorrer num domingo, quarta ou sexta-feira. Dessa forma, o calendário precisa ser ajustado periodicamente.

Anos embolísticos

Ajustes para corrigir imperfeições no calendário gregoriano também acontecem, por isso temos o ano bissexto. No judaico, anos com alterações são chamados de anos embolísticos, conhecidos em hebraico como Shana Meuberet, e têm o acréscimo de um mês. Porém, como no gregoriano, um dia adicional também é inserido nos meses de Chesvan e Kislev, caso venha a ser necessário.

Chama-se os mês adicional do ano embolístico de Adar II.

Foi o Rabino Maimonedes (Rambam) quem fez os cálculos para a ordenação do calendário judaico, em 1178. Ele ajustou para que o calendário transcorre-se de maneira cíclica, com cada ciclo tendo duração de 19 anos e com a presença sete anos embolísticos nele, o 3º, 6º, 8º, 11º, 14º, 17º e 19º.

Enquanto o calendário gregoriano tem aproximadamente 400 anos de idade, o judaico foi alterado pela última vez há mais de 840.

Esta alteração feita por Maimonedes foi a segunda que o calendário judaico sofreu ao longo dos seus mais de 5700 anos. A primeira ocorreu em 358 D.C., com Hillel II, quando ele estabeleceu um calendário fixo, sem a necessidade do acompanhamento astronômico, tendo em vista a dificuldade na sua manutenção por conta da diáspora judaica.

Os meses

No que se refere aos meses, o entendimento de como eles funcionam é mais simples. Podemos perceber isso ao analisar a palavra em hebraico para mês, חודש (chodesh), que tem o mesmo radical da palavra novo, (chadash) חדש. Ou seja, o próprio nome já indica que o mês começa junto com um novo ciclo da lua, na Lua Nova. Sendo assim, o 1º dia do mês será noite a mais escura, enquanto o 15º, a mais clara.

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Outro ponto interessante em relação aos meses é quanto os seus nomes. Todos eles têm origem do antigo calendário babilônico. Apesar de termos conhecimento dos nomes originais de quatro desses meses, Etanim (Elul), Abib (Nissan), Ziv (Yiar) e Bul (Cheshvan), eles não são utilizados.

É comum encontrar pessoas em Israel com nomes em homenagem aos meses, como Sivan e Adar, por exemplo.

Os dias e as semanas

No que se refere aos dias e as semanas, também há diferenças.

Como você já sabe, o calendário judaico é lunissolar, logo, a verificação de que a noite já começou é de extrema importância, pois é a partir desse marco que começa o dia judaico. Dessa forma, é estabelecido que o dia no judaismo começa a partir do surgimento da primeira estrela no céu. É por esse motivo que sexta-feira a tarde as famílias judaicas já começam a se organizar para receber o Shabat, o dia do descanso.

O dia do Shabat (sábado), por sinal, é mais um ponto divergente entre os calendários. Enquanto no gregoriano consideramos que domingo é o último dia da semana, aos judeus, o sábado ocupa este papel. Não a toa, domingo por aqui é um dia útil.

Os “anos novos”

Por fim, e não menos importante, uma grande diferença que temos nos calendários é em relação ao Ano Novo. Segundo o judaismo, há quatro Anos Novos durante o ano.

O mais conhecido entre eles é o Rosh Hashana. Este dia, 1 de Tishrei, é o ano novo civil. Ele ocorre no mesmo dia que Deus teria criado Adão. Hoje, 26/9/2020, estamos, segundo o calendário judaico, no ano de 5781 desde a criação do Homem. Ou seja, há uma diferença de 3761 anos entre os calendários.

Segundo a Bíblia, Deus criou Adão no dia 7 de outubro de 3761 AC do calendário gregoriano.

O outro Ano Novo que temos é o Eclesiástico, 1 de Nissan. Considera-se esta data como o marco zero do calendário judaico. Este sim é o primeiro mês do ano. Isso ocorre pois foi nesse dia, no ano de 2448, que Deus ensinou Moisés como realizar a contagem dos dias e meses.

Há ainda outros dois anos novos. O das árvores, celebrado no dia 15 de Shvat, e o do gado, relacionado ao dízimo dos animais, no dia 1 de Elul. Este último não é celebrado desde a destruição do Templo, pois não há mais a obrigação da oferta de sacrifícios.

Os meses e os Anos Novos judaicos
Os meses e os “anos novos” judaicos.

O calendário judaico em Israel

Depois de termos compreendido todo o funcionamento do calendário judaico, fica uma dúvida. As pessoas o utilizam? A resposta é sim.

Além, de como vimos, o dia de Domingo ser um dia útil por aqui e a sexta-feira ser considerada meio-expediente, as festividades não religiosas também são baseadas neste calendário, como o dia da independência, 5 de Yiar, e o dia da lembrança dos mortos no Holocausto, no dia 27 de Nissan.

As datas do calendário judaicos também são impressas em jornais, cunhadas nas moedas e utilizadas dentro do meio religioso, como você pode ver nesta postagem. Já o ambiente corporativo e o governo se baseiam em sua maioria no calendário gregoriano.

Finalmente, depois de aprender tudo isso sobre o calendário judaico, você pode checar alguma data de acordo com ele clicando aqui. Apesar de ser em inglês é bem intuitivo.

Eu nasci em 6 de Tishrei de 5749. E você?

Ilan Administrator
Guia de Turismo

Em Israel desde 2018, é nativo do Rio de Janeiro. Guia de turismo formado, tenho formação em Biologia e Marketing. Apaixonado por Israel e pela Natureza

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