O ano de Shemitah é o ano sabático, ano de descanso de terra. Deus ordenou que no momento em que o povo de Israel entrasse na Terra prometida, eles contassem um ciclo de 7 anos. Durante 6 anos eles poderiam plantar, cultivar e colher na terra. Mas no sétimo ano a terra teria um descanso. Ela não sofreria atividade agrícola, afim de ser renovada para um próximo ciclo.
Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando tiverdes entrado na terra, que eu vos dou, então, a terra guardará um sábado ao Senhor. Seis anos semearás a tua terra, e seis anos podarás a tua vinha, e colherás a sua novidade. Porém, ao sétimo ano, haverá sábado de descanso para a terra, um sábado ao Senhor; não semearás o teu campo, nem podarás a tua vinha. O que nascer de si mesmo da tua sega não segarás e as uvas da tua vide não tratada não vindimarás; ano de descanso será para a terra. (Levítico 25:2-5)
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A economia e agricultura
“Mas como o povo se alimentaria naquele ano? Como ficaria a economia da nação durante o ano de Shemitah em Israel?”
Lembremos que estamos falando de um momento na história aonde a atividade agrícola era uma das principais fontes econômicas das nações. O maior princípio desta ordenança estava além do descanso para a terra. Israel estava sendo convidado a confiar em Deus. Precisavam acreditar que Ele proveria de forma abundante no sexto ano. Haveria uma colheita que duraria até 3 anos e eles experimentariam a provisão divina ao obedecer esta instrução.
O ano de Shemitah também era um ano de remissão, perdão de dívidas. Um israelita que tivesse empobrecido e por conta disto vendesse sua terra, teria a chance de tê-la de volta. Um parente próximo poderia comprá-la novamente e assim ela voltaria ao primeiro dono. Um dos objetivos portanto do Shemitah era equilibrar a vida econômica, agrícola, social e espiritual do povo de Israel. Os estrangeiros até podiam ser cobrados nesta ano. Mas entre os filhos de Israel as dívidas eram quitadas, para que não houvesse pobreza entre o povo.
Sete ciclos de Shemitah, 49 anos, culminavam no ano de Yovel, o Jubileu. Na celebração do 50º ano aconteciam todas as remissões e libertações não ocorridas nos anos de Shemita. Até escravos eram libertos neste ano. Vale salientar, que nos dias atuais o Jubileu não é mais observado em Israel. Esta posição vem do entendimento que ele só se aplica se o povo habitar em Israel de acordo com suas tribos. Portanto, desde 600 a.C. quando a tribo de Ruben, Gade e Manassés foram exiladas, o Jubileu deixou de ser observado.
Como é o Ano de Shemitah hoje em Israel?
Precisamos voltar um pouco no tempo para ter esta resposta. Israel enfrentou a Diáspora, o exílio das nações desde o ano 70 d.C. com a invasão romana. Por quase 2000 anos viveram espalhados entre as nações da terra. Logo não foi possível celebrar o ano de Shemitah. A ordenança bíblica era que fosse feito na própria terra de Israel. Entretanto, no ano de 1882 aconteceu a chamada Alyah do Fazendeiro ou Primeira Alyah. Antes mesmo do ressurgimento do Estado de Israel, grupos e atividades agrícolas voltaram a ser estabelecidas pelos judeus. Métodos agrícolas modernos foram aplicados neste processo.
Várias colônias judaicas nasciam em Israel. Algumas baseadas exclusivamente na atividade agrícola. Em 1888 nasceram os debates sobre a lei de Shemitah. Debates haláchicos, maneira de cumprir os mandamentos. Este era o 1º ano sabático desta nova era. “Como aplicar a lei de Shemitah naquele momento?” Sionistas defendiam que se os fazendeiros não trabalhassem por 1 ano, o desenvolvimento daquelas terras estaria ameaçado. Algumas autoridades rabínicas eram tolerantes a ceder ao não cumprimento do ano sabático. Eles justificavam esta posição pelo princípio de sha’at hadechak, sofrimento indevido. Baseado no que haviam enfrentado durante todos aqueles anos passados.
Controvérsia Shemitah
Se iniciou então o que é conhecido como “Controvérsia Shemitah.” “Como encontrar uma solução para esta ordenança em tempos modernos e de restabelecimento na terra?” Dois lados se dividiram entre os rabinos em Israel e na Europa. Um lado defendia o fechamento real da agricultura judaica naquele período. A solução era trazer frutas e vegetais do exterior e indenizar fazendeiros com deficiência.
A outra posição, que foi aceita e aplicada, foi chamada de Heter Mechira, Licença de Venda. Este “truque” consiste em vender a terra para um não judeu durante o ano sabático. Assim os agricultores judeus poderiam trabalhar e cultivar a terra neste período. No ano seguinte a terra voltaria para o seu antigo dono judeu. Esta posição foi fortemente defendida pelos fazendeiros de Israel. Liderados pelo Barão Edmond Rothschild apresentaram a causa às autoridades rabínicas. Alguns colonos ainda tentaram observar o ano de descanso da terra. Mas estes foram pressionados à seguir trabalhando. Correndo o risco inclusive de não terem apoio financeiro, caso permanecessem com aquela posição. A “Licença de Venda” é a posição aplicada até os dias atuais, porém sofreu algumas modificações com o passar do tempo.
Quando começa o Shemitah?
Antes de prosseguirmos na história do Shemitah atual, vamos abordar outro ponto relacionado ao tema. Uma outra dúvida recorrente é qual a data exata do início do Shemitah. Já que não existe um dia específico na Bíblia de quando ele deve começar.
“Seria exatamente 7 anos após o início das atividades agrícolas?” “Ou seria no início do ano para o povo de Israel?” Se considerarmos esta segunda hipótese a discussão se amplia. Pois biblicamente, o 1º mês do ano é o mês da comemoração de Pessach, Páscoa, conhecido como Aviv ou Nissan. Mas na tradição rabínica, o ano novo, Rosh Hashanah, passou a ser celebrado no 7º mês do calendário bíblico, o mês de Tishrei. Exatamente na data da festa bíblica de Yom Teruah, o Dia das Trombetas. A determinação veio na Mishnah, tratado de interpretações rabínicas sobre a Torah, que compõe o Talmud. Segundo esta interpretação rabínica é em Rosh Hashanah que começa o ano civil de Israel. Eles também determinaram que nesta data se inicia o cumprimento dos mandamentos relacionados à agricultura, por exemplo o Shemitah.
O Shemitah na atualidade
Alguns ajustes foram feitos ao longo do tempo até chegar na prática atual do Shemitah. Principalmente por reclamações feitas pelos fazendeiros. Eles disseram sofrer economicamente naquele ano, já que não tinham posse da terra. Uma mudança significativa foi o “Tesouro entre as leis”, Otzar Beit Din. Nela o Tribunal Rabínico compra a terra agrícola e a torna pública por um ano. O Tribunal então nomeia os próprios fazendeiros como mensageiros públicos. Eles recebem salário pela colheita de frutas, vegetais e fazer seu transporte. Esta foi uma forma encontrada para que tivessem sustento naquele ano.
Ainda existem outras alternativas procuradas para cumprir o Shemitah. Por exemplo, alguns agricultores ortodoxos cultivam em estufas hidropônicas. Mas estas são algumas alternativas não são tão consideráveis. A transferência da posse de terra ainda é a mais influente na agricultura moderna de Israel.
Por fim, atualmente o ano de Shemitah não significa um ano sem atividades agrícolas ou econômicas. Também não há uma mudança significativa nos produtos encontrados nos mercados e feiras pelo país. Já em relação ao perdão de dívidas, Israel é como a maioria das nações da terra. As pessoas devem mais às instituições financeiras do que aos indivíduos. E estas não aplicam remissão no Ano de Shemitah.
Após estes entendimentos, interpretações e aplicações recentes, Israel entrou no ano de Shemitah neste último dia 1º de Tishrei do ano 5782, no pôr-do-sol do dia 6 de Setembro de 2021.
Fontes:
https://www.haaretz.com/jewish/what-is-shmita-and-where-did-it-come-from-1.5302148
https://www.israel21c.org/shmita-controversy-and-community/
https://en.wikipedia.org/wiki/Shmita
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Mora em Jerusalém, aonde tem vivido uma experiência incrível de fazer seu mestrado em Arqueologia. Casado com Potira e pai do João Pedro, Benjamin e Eloah.
Muito Bom…
Bastante esclarecedor,uma aula e tanto.
Tremendo, estudo preciso
Muito bom
EXCELENTE CONTÚDO
Afinal quando exatamente termina a Shemitah?