Harry Potter Morreu

É isso mesmo que você acabou de ler. Harry Potter morreu em Israel, no dia 22 de Julho, dois meses antes de completar 20 anos, após uma intensa batalha de sua tropa contra uma gangue inimiga.

Mas, não se preocupe. Rony e Hermione estão bem. E, tampouco foram os membros da Sonserina, ou seguidores do Voldemort, que mataram nosso heroi.

Esta é a história de Harry Potter, um soldado britânico homônimo ao famoso bruxo, que serviu na região da Palestina, hoje Israel, entre 1938 e 1939, ano de sua morte.

O Primeiro Harry Potter

Harry Potter
Harry Potter com 17 anos. Foto do Regimento Worcestershire

O Soldado Potter, nascido dia 16 de Setembro de 1920 em Kidderminster, não compartilha com o filho de Lily e James Potter apenas o nome. A bravura está presentes em ambos. O nosso Harry, por exemplo, falsificou sua documentação para que pudesse se alistar no exército um ano antes do permitido, com apenas 16.

Harry via o ingresso no exército como uma chance de melhorar de vida, ajudar sua família e conhecer o mundo, num momento em que a Inglaterra havia ampliado ainda mais o seu território com as vitórias na 1ª Guerra Mundial.

Diferente do famoso bruxo, o Soldado Potter, no entanto, tinha uma grande família; sete irmãos, uma mãe zelosa e um pai trabalhador. Além disso, o nosso Harry não teve a oportunidade de ir para Hogwarts. Talvez, por esta razão, abandonou os estudos precocemente, indo trabalhar numa fábrica de tapetes, aos 14 anos.

Harry Potter em Israel

Harry Potter
Harry Potter e seu amigo Holland. Foto do Regimento Worcestershire

Não se sabe se por escolha do Chapéu Seletor, ou de um de um militar, Harry acabou alocado na Divisão de Transporte Motorizado do 1º Batalhão do Regimento Worcestershire. Em Setembro de 1938, o já Soldado Potter, embarcaria com sua guarnição em viagem à Terra Santa e, no próprio navio H.T. Neuralia, iria comemorar a sua maioridade. Foi neste período que ele pode conhecer o soldado Holland que, tal como Rony Weasley nos livros, assumiu o papel de seu melhor amigo.

O Soldado Potter tinha como principal tarefa no exército pilotar, não vassoras de quadribol, mas sim os caminhões da frota britânica, ajudando o deslocamento das tropas e a patrulha da região. Não era um trabalho fácil. Os conflitos entre os britânicos e os árabes se intensificavam a cada momento desde o início da Revolta Árabe, em 1936, e não pareciam estar perto do fim.

Harry era conhecido como Crash Harry, algo como Harry Colisão.

A Morte de Harry Potter

No início de 1939, Harry foi transferido à base de Deir Sha’ar, junto a Companhia D. Ele estava agora nas Montanhas de Hebrom, talvez a região mais tensa do protetorado. Eram recorrentes os conflitos no local entre os árabes e as forças britânicas, bem como com os imigrantes judeus que chegavam fugindo de uma Europa Nazista. Esta grande migração judaica, inclusive, fora o estopim ao início da Revolta, três anos antes.

No meio desta zona de tensão, no dia 22 de Julho de 1939, 41 anos e 8 dias antes do nascimento do personagem de J. K. Rowling, Crash Harry partia para sua última missão.

Mais cedo, naquele dia, uma gangue árabe emboscou um carro blindado da Força Aérea Real britânica, a R.A.F. A Companhia D foi designada para perseguir os agressores.

Harry dirigiu, levando seus colegas à batalha, pelos caminhos sinuosos entre as montanhas no meio do Deserto de Juda.  Ao chegar na rodovia Hebrom-Bersheva, hoje parte da rodovia 60, encontrou a gangue inimiga. O confronto se deu no quilômetro 39. Houve uma grande troca de tiros. Por mais que os soldados britânicos contassem com um melhor armamento e treinamento militar, eles enfrentavam um inimigo que lutava por uma causa e não tinham medo de morrer por ela. O confronto se estendeu por horas até o momento em que os britânicos conseguiram liquidar a gangue. Contudo, esta ação teve um alto custo. A vida do nosso soldado. Harry Potter morreu no local e não foi a única baixa. Seus parceiros, os Soldados Warwick, Pearson, Simmonds e Darby voltaram à base gravemente feridos, com o último morrendo posteriormente.

Enterro
Enterro de Harry Potter. Foto do Regimento Worcestershire

A última carta de Crash Harry

As semelhanças entre os Harrys não se restringem ao nome e a bravura. O Soldado Potter era um grande adepto do envio de cartas. Apesar de não possuir nenhuma coruja como a Edwiges, ele costumava manter uma comunicação constante com a família. A sua última, por sinal, destinada à sua mãe, foi entregue a ela no dia seguinte a sua morte.

“Querida mãe, em resposta à sua carta, estou indo bem. Espero estar em casa no Natal. Se eu não for, será um pouco de azar.

No momento estou em um lugar que chamamos de The Pumpet. Não temos muito trabalho a fazer por agora e espero que você esteja bem. Espero que o papai ainda esteja trabalhando. Diga a Ken [irmão de seis anos] que não vou esquecer de sua bicicleta. Espero que Alice [sua irmã mais velha] esteja bem.

Temos nadado muito ultimamente. Você talvez tenha lido os jornais. Não estou me gabando, mas ouço as notícias no rádio sobre o trabalho que nós da Worcestershires temos feito. Bem, acho que é tudo por agora.

Adeus, Crash Harry.”

Túmulo de Harry Potter

Harry Potter morreu
Túmulo de Harry Potter no cemitério militar de Ramla

A história do nosso soldado permaneceu em silêncio por quase 70 anos. Não se sabe ao certo quem foi o primeiro que, numa visita ao cemitério militar britânico de Ramla, percebeu a curiosa coincidência entre os nomes.

Contudo, foi em 2010 que a grande fama chegou de maneira póstuma a Harry Potter. Aproveitando o lançamento do penúltimo filme da franquia original, Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 1, o túmulo conheceu a glória, sendo promovido, inclusive, pelo site do município, como atração turística local.

Inúmeros artigos foram publicados sobre ele e, até hoje, é normal ver guias levando turistas estrangeiros e locais para visitar o túmulo, prestar homenagens ao soldado e conhecer um pouco mais sobre o período do Mandato Britânico na Palestina.

A Revolta Árabe de 1936

Harry Potter e Joseph Darby foram dois dos 262 britânicos que perderam suas vidas durante a Revolta Árabe de 36, que viria a acabar apenas dois meses depois do incidente. A assinatura do documento conhecido como Livro Branco de 1939 limitaria a migração judaica à região, acalmando os ânimos árabes.

Ao final do conflito, no entanto, a conta foi alta. Como nas Guerras Bruxas, todos os lados tiveram baixas. Além dos 262 britânicos, 300 judeus e 5 mil árabes também perderam suas vidas. Entre feridos, foram mais de 15 mil só do lado árabe.

Contudo, alguns especialistas dizem que as grandes baixas relacionadas à Revolta não se deram no Oriente Médio e sim na Europa. Com o fechamento das fronteiras – inclusive da Terra Santa – e o crescimento do poder Nazista, os judeus viam cada vez menos opções para onde fugir. É difícil calcular quantos mais poderiam ter aportado em Israel, mas, definitivamente, estes que não conseguiram imigrar ajudaram ao número de judeus mortos durante o Holocausto Nazista a chegar na casa dos seis milhões.

Durante esta revolta, outros personagens de relevância história, mas desta vez não ficcional, também estiveram presentes e se destacaram. São os casos, por exemplo, de Haj Amin al-Husseini, o grão-mufti de Jerusalém e futuro aliado de Adolf Hitler, pelo lado dos árabes, e Ben Gurion, que se tornaria primeiro Primeiro Ministro Israelense em 1948.

O Cemitério Militar de Ramla

A partir da conquista Britânica da Região de Israel, na Primeira Guerra Mundial, seis cemitérios militares foram construidos até a saída dos Britânicos, em 1948. Os principais se localizam em Jerusalém, Haifa e Ramla, neste onde se encontra o nosso Harry Potter. Sendo assim, uma visita a eles é uma forma de se analisar por uma janela temporal bem delimitada como se dava dinâmica regional.

Por exemplo, o Cemitério de Ramla lembra a vida de 5731 soldados de 57 nacionalidades. Este dado, junto com o monumento local aos 966 egípcios que morreram pelo exército britânico, indicam o poder e dimensão da Coroa Britânica na primeira metade do século XX e o volume de soldados “não ingleses” que compunham o seu exército.

Não somente isso, o cemitério de Ramla também permite que se entenda um pouco da relação entre os britânicos e os judeus. Nele, estão as lápides de Clifford Martin e Marvin Pace ,dois sargentos ingleses que foram enforcados pelo Irgun, organização paramilitar sionista que lutava contra árabes e britânicos visando à independência de uma nação judaica.

As oportunidades que uma simples ida a um cemitério podem render são inúmeras. Mas, a certeza é que Dumbledore ficaria extremamente orgulhoso, seja o motivo da visita para aprender História, ou prestar alguma homenagem aos que lutaram pela liberdade e contra o mal, tal como o nosso amigo bruxo.

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Ilan Administrator
Guia de Turismo

Em Israel desde 2018, é nativo do Rio de Janeiro. Guia de turismo formado, tenho formação em Biologia e Marketing. Apaixonado por Israel e pela Natureza

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