Bem-vinda a Israel

Em 1998 eu e minha mãe chegamos a Israel. Não me lembro exatamente quando, mas provavelmente em janeiro ou fevereiro. Estava frio . Minha mãe diz que não foram muitos os brasileiros que migraram conosco. Nós chegamos numa época onde as grandes leva de imigrantes eram da então antiga União Soviética e Etiópia. Saímos do avião e a pista estava congelada. Foram algumas horas de carro até chegarmos ao Centro de Absorção de Imigrantes, conhecido em hebraico como Mercaz Klita, em Carmiel, um dos muitos espalhados pelo país.

O Centro de Absorção é gerido pelo Ministério de Absorção dos Imigrantes. Ele é uma opção aos judeus que chegam em Israel e precisam de um tempo até se acostumar com o país.

Nesta época, eu tinha cinco anos e tudo que lembro é da minha mãe entusiasmada, me vestindo com um casaco grande e me fotografando na cidade nevada. Depois de viver um pouco nesta pequena cidade, começamos a ingressar na rotina local como os demais imigrantes. Lembro-me que certo dia pegamos o elevador para nosso pequeno apartamento junto com uma mulher com sobrepeso. Foi quando eu disse para minha mãe em português: “Mãe, olha que mulher gorda”! Neste momento, a minha mãe virou para mim e respondeu: “Não era bom falar de estranhos assim”. Quando as portas do elevador se abriram, a mulher se virou para nós e comentou em português – sim, ela era brasileira! – que minha mãe tinha razão, piscou para mim e acrescentou que em Israel sempre haverá alguém que entende outra língua. Por ventura, ela se tornou a única amiga brasileira da minha mãe em Israel.

Os imigrantes judeus, quando chegam a Israel, recebem o nome de Olim

O Jardim de Infância

Após um período no Centro de Absorção, minha mãe foi questionada se ela era religiosa e onde gostaria de morar. Ela disse que era uma judia observadora, que eu estudava no jardim de infância da sinagoga do Beit Chabad, e que procurava estar numa comunidade acolhedora e familiar. Fomos então orientadas a nos mudarmos para uma pequena comunidade nas montanhas de Samaria. Lembro-me de nos dirigimos por uma estrada sinuosa, através de montanhas desertas e desoladas, até que encontramos uma comunidade com cercas, com um posto de controle e soldados uniformizados.

Logo que chegamos, fui inscrita num jardim de infância, no qual eu, por ser imigrante, deveria ficar um ano a mais que o normal para ajudar o processo e adaptação ao país, aprender o idioma, conhecer a cultura e fazer amizades. Lembro-me que no primeiro dia de aula, eu não conhecia ninguém. Também não tinha o domínio do idioma. Mas eu estava tão feliz que eles me pediram para cantar uma música. Então, eu fui até a mesa e cantei “Messias Messias Messias!”, música que havia aprendido no jardim de infância da sinagoga, ainda no Brasil. E é isso, no dia seguinte eles explicaram para minha mãe porque eu estava mudando para a primeira série, sem a necessidade de um ano adicional no jardim.

Eu não me lembro muito da primeira série. Recordo que queriam mudar meu nome para um nome hebraico, me disseram que a partir de hoje vamos chamá-la de Ora! Inclusive, no bolo de aniversário de seis anos foi decorado com o nome Ora, tenho até uma foto em algum lugar. Mas eu não gosto desse nome! Então não vou compartilhar com vocês esta foto, mas outra, que ilustra este post. Eu, no do centro de absorção, durante a Festa de Purim, meu feriado preferido desde pequena. Resolvi comemorar o feriado do meu jeito, me maquiando e me vestindo sozinha. Sim, com cinco anos.

O conteúdo deste texto é fruto da opinião pessoal da autora.

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Lyra Sennes Autor
Consultora Político-Cultural

Aos 5 anos fez Aliah do Brasil com sua mãe em busca de uma comunidade judaica e um sentimento de pertencimento. Lyra viveu a maior parte de sua vida em Jerusalém, onde completou sua educação até entrar no exército israelense. Em 2019, depois de se formar na Universidade Hebraica de Jerusalem, foi transferida para Nova York pelo trabalho.

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