São inúmeros artefatos arqueológicos que vão prover aos pesquisadores pistas do passado. Alguns dos menores e mais importantes são os selos e as bulas. E, estudando eles, podemos perceber que muitas vezes a Arqueologia confirma Bíblia! Quer saber mais?
Enquanto os selos são, em suma, carimbos feitos de pedras ou metal com inscrições contidas neles, as bulas são pequenos pedaços de argila que eram produzidas pela pressão deste selo, principalmente, com a finalidade de assinar correspondências. E, exatamente por conta de sua composição, que tende a se transformar em cerâmica quando exposto ao calor, elas, e os selos, fornecem evidências arqueológicas de valor incalculável.
Alguns desses artefatos são adornadas com emblemas, outos, apenas com um nome e, alguns poucos, com ambos. E, por conta deste registro que os arqueólogos conseguem não só dar o nome aos habitantes da época em questão como, no caso de escavações em cidades bíblicas, como Jerusalém, comprovarem, mais do que tudo, a existência de personagens da Bíblia.
Mercado Negro x Pesquisas Arqueológicas
Por conta de sua raridade, unicidade e, as vezes, relação bíblica, as bulas e selos acabam por ter grande interesse de colecionadores de antiguidades. Contudo, para se ter acesso a elas, muitas vezes, eles recorrem ao Mercado Negro que, quando não está vendendo falsificações, muitas vezes, coloca no mercado peças que foram tiradas de maneira ilegal de algum sítio arqueológico.
O grande problema que esta coleta de material traz não é só o roubo em si, mas também a ausência de um registro correto desta peça. Desta forma, como veremos no texto a seguir, por vezes alguns destes itens com valores históricos inestimáveis são encontrados com colecionadores, porém, por não terem um registro válido de onde foram coletadas, acabam por não serem úteis à pesquisa. Isto é, podemos encontrar um selo ou uma bula, por exemplo, escrito Rei Salomão a venda num antiquário. Porém, mesmo que possa se provar que ele não seja uma réplica, a comunidade científica será muito cética em validar que ele se refere, efetivamente, ao famoso Rei dos Hebreus.
Das inúmeras bulas e selos que foram encontrados e comprovam a existencia de personagens bíblicos e estão citados abaixo, alguns são oriundos do mercado negro. Contudo, muitas pesquisas paralelas e outros achados contribuiram para corroborar a veracidade deles, ou, pelo menos, chegar muito próximo a ela.
Citados em Jeremias | Citados em Reis | Profeta Isaias | A Realeza dos Hebreus
Personagens citados em Jeremias
Gemarias, filho de Safã
Um dos principais sítios arqueológicos de Jerusalém é a Cidade de David, e foi lá, em 1980, que uma grande variedade de bulas foi encontrada numa construção destruida pelo fogo da conquista dos babilônios.
Entre as 51 bulas encontradas por Yigal Shiloh neste local, conhecido como Área G, uma chamava a atenção pelo nome familiar, Gemaryahu ben Shaphan (Gemarias, filho de Safã).
Gemarias não era um personagem qualquer do enredo bíblico. Segundo o profeta Jeremias – que cita em seu livro a maioria dos personagens deste artigo -, o filho de Safã era um escriba do Rei Jeoaquim de Judá, que reinou durante o Primeiro Templo, entre os anos 609 a 598, até poucos anos antes da sua destruição pelos babilônios.
Leu, pois, Baruque naquele livro as palavras de Jeremias, na casa do Senhor, na câmara de Gemarias, filho de Safã, o escriba, no átrio superior, à entrada da porta nova da casa do Senhor, aos ouvidos de todo o povo. Jeremias 36:10
Gedalias filho de Pasur e Jucal filho de Selemias
Já nas escavações da Dra. Eliat Mazar, também na Cidade de David, outras bulas com os nomes de Ministros do rei Zedequias, o último rei de Judá, foram encontrados. As bulas de Jucal, filho de Selemias, e Gedalias, filho de Pasur.
Com mais de 2600 anos, a bula que continha a inscrição de Gedaliah ben Pashur (Gedalias, filho de Pasur) foi descoberta de maneira intacta numa escavação, em 2008. O mais interessante, no entanto, é que este nome aparece no Livro de Jeremias (38:1), no mesmo versículo, acredite se quiser, que Yehuchal ben Shelemayahu (Jucal, filho de Selemias), que teve uma bula encontrada com o seu nome, num local muito próximo a bula de Gedalias, três anos antes.
Ouviram, pois, Sefatias, filho de Matã, e Gedalias, filho de Pasur, e Jucal, filho de Selemias, e Pasur, filho de Malquias, as palavras que anunciava Jeremias a todo o povo, dizendo: Jeremias 38:1
Esta foi a primeira vez na história da arqueologia bíblica que duas bulas contendo o nome de dois personagens que aparecem no mesmo versículo foram desenterradas no mesmo local. Ambas no meio de destroços da destruição do Templo de Salomão.
E ainda mais incrível é o fato da bula de Jucal ser única, também, por fazer menção ao seu avô, algo nunca visto antes: “Pertencente a Jucal, filho de Selemias, filho de Shovi“. Logo, os arqueólogos acreditam que o avô de Jucal, Shovi, fora uma pessoa de extrema influência.
Porém, as revelações bíblicas não acabam por aí! Pasur, o pai de Gedalias, também é citado na bíblia, o que levou a este único artefato a confirmar dois personagens ao mesmo tempo!
E feriu Pasur ao profeta Jeremias, e o colocou no cepo que está na porta superior de Benjamim, na casa do Senhor. Jeremias 20:2
Ambas bulas estão expostas no Museu de Israel.
Os Filhos de Nerias
Baruque
O primeiro filho de Nerias a ser identificado, não apenas em uma bula, mas em duas, foi o escriba, amigo leal e aliado político do Profeta Jeremias, Baruque. As três linhas inscritas na sua bula dizem em hebraico arcaico: Pertence a Berekhyahu, filho de Nerias, o escriba.
Esta diferença na grafia não seria um problema à identificação dele como sendo o personagem bíblico, dizem os arqueólogos, afinal, Baruque seria um “apelido” de Berekhyahu.
Na Bíliba, Baruque é citado em quatro momentos em Jeremias, sendo o primeiro como a testemunha da compra da terra na cidade natal do Profeta, Anatote.
E dei a escritura da compra a Baruque, filho de Nerias, filho de Maaséias, na presença de Hanameel, filho de meu tio e na presença das testemunhas, que subscreveram a escritura da compra, e na presença de todos os judeus que se assentavam no pátio da guarda. Jeremias 32:12
É interessante pensar que, talvez, uma das bulas tenha sido a utilizada nesse processo.
O grande problema, nesse caso, é que ambas apareceram ao mundo durante os anos 70, não a partir de pesquisas arqueológicas, mas sim no mercado de antiguidades. Dessa forma, desde então, há inúmeros pesquisadores que dedicam o seu tempo para comprovar a autenticidade das peças, mas ainda sem chegar a um consenso.
Seraías
A alguns pesquisadores, Baruque não foi o único filho de Nerias a ser citado na bíblia e ter a seu nome encontrado.
Seraías, citado tanto em Jeremias 32:12 e 51:59, teve seu selo encontrado numa coleção privada. E ,como a maioria dos selos com esta procedência, é difícil a confirmação plena de sua veracidade. Contudo, alguns especialistas acreditam que ele seja, não só verdadeiro, como contemporâneao ao de Baruque, reforçando a ideia de Teólogos que ambos personagens eram irmãos.
Os selos eram usados em carimbos, anéis ou pingentes.
Esta peça, diferente das demais, omite o termo filho de, mas, é clara esta interpretação ao se ler nas duas linhas Pertence a Seraías «filho de» Nerias.
A palavra que Jeremias, o profeta, mandou a Seraías, filho de Nerias, filho de Maaséias, indo ele com Zedequias, rei de Judá, a babilônia, no quarto ano do seu reinado. E Seraías era o camareiro-mor. Jeremias 51:59
Na Bíblia, Serias serviu como quartel-mestre – militar encarregado da administração financeira e do abastecimento de uma unidade – da equipe do Rei Zedequias em sua jornada a Babilônia, e fora instruído por Jeremias a levar consigo os livros das professias e lê-lo aos babilônios.
Hananias filho de Azur
Apesar de ter sido descoberto num mercado de antiguidades em 1982, selo de Hananias é considerado autentico e, provavelmente pertencende ao falso profeta.
A falta de uma procedência, bem como outros dados relacionados a sua coleta impedem qualquer pesquisador mais pragmático de confirmar esta teoria. Contudo, a maioria acha que, sim, o selo tenha sido desta figura bíblica.
Ornamentado com romãs ao redor, combina em estilo perfeitamente com aqueles descobertos em escavações do período, sugerindo, assim, que tenha sido feito, inclusive, pelo mesmo artesão.
Em Jeremias 28, a Bíblia dedica um um capítulo inteiro a contar a história deste falso profeta, Hananias filho de Azur.
E sucedeu no mesmo ano, no princípio do reinado de Zedequias, rei de Judá, no ano quarto, no mês quinto, que Hananias, filho de Azur, o profeta que era de Gibeom, me falou na casa do SENHOR, na presença dos sacerdotes e de todo o povo, dizendo: Assim fala o SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel, dizendo: Eu quebrei o jugo do rei de babilônia. Jeremias 28:1,2
Elisama filho de Semach
Em 1982, junto com a bula de Gemarias, filho de Safã, uma outra bula de possível interesse bíblico foi encontrado. Nela estava escrito Pertence a Elisama, filho de Semach.
Por mais que na Bíblia, mais especificamente, em Jeremias, tenha uma citação indicando Elisama como um escrivão, o autor não dá mais detalhes quanto ao seu nome completo. Contudo, por ter sido encontrado junto a bula de Gemarias, e ambos serem contemporâneos e escribas, alguns estudiosos acreditam que possa se tratar da mesma pessoa.
E foram ter com o rei ao átrio: mas depositaram o rolo na câmara de Elisama, o escriba, e anunciaram aos ouvidos do rei todas aquelas palavras. Jeremias 36:20
Personagens citados em Reis
Natã-Meleque
Também na Cidade de David, no Estacionamento Givati, em 2019 foi encontrada a bula contendo os dizeres: “… LeNatan-Melech Eved HaMelech” (Pertencente “a Natã-Meleque, servo do Rei). Este nome, Natã-Meleque, aparece uma vez na Bíblia, onde é descrito como um oficial da corte do Rei Josias, que tomou parte da reforma religiosa que o rei estava implementando:
Também tirou os cavalos que os reis de Judá tinham dedicado ao sol, à entrada da casa do Senhor, perto da câmara de Natã-Meleque, o camareiro, que estava no recinto; e os carros do sol queimou a fogo. 2 Reis 23:11
O título servo do Rei (Eved HaMelech) aparece com frequência na Bíblia. Ele se refere a um oficial de alto escalão e próximo ao Rei, e já fora encontrado em outras inscrições e bulas. Porém, não ter o nome de seu pai foi algo que chamou a atenção dos pesquisadores.
Segundo os arqueólogos, o fato do nome de sua família não estar presente na bula indica que ele era uma pessoa conhecida por todos. Contudo, por não ter nenhum outro detalhe sobre ele na bula, dificulta aos estudiosos darem 100% de certeza de que se trata do mesmo personagem bíblico, apesar das probabilidades serem enormes.
Uma bula idêntica a ela esta no mercado de antiguidades desde 1997. Porém, somente com a recente descoberta tornou-se possível autentica-la.
Azarias e Hanã, os filhos de Hilquias
A bula descoberta em 1982, nas escavações do Professor Yigal Shiloh, também na Cidade de David, e hoje exposta no Museu de Israel, contém os dizeres Pertence a Azarias, filho de Hilquias.
Azarias era filho de Hilquias, o famoso sacerdote que serviu no templo durante o reinado do Rei Josias.
E Salum gerou a Hilquias, e Hilquias gerou a Azarias, 1 Crônicas 6:13
E esta única bula, incrivelmente, também comprova outro personagem bíblico. Hilquias, o pai de Azarias, também é citado na bíblia.
Então disse o sumo sacerdote Hilquias ao escrivão Safã: Achei o livro da lei na casa do Senhor. E Hilquias deu o livro a Safã, e ele o leu. 2 Reis 22:8
Hilquias foi o braço direito de Josias durante o renascimento religioso de Judá e ajudou o Rei a restaurar o Templo em Jerusalém, que fora dessacralizado, e, durante este processo, encontrou os livros das leis de Moises.
O mais interessante é que dois anos anos, em 1980, uma outra bula de um outro filho de Hilquias fora encontrado no mercado de antiguidades com os dizeres Pertence a Hanã, filho de Hilquias, o Sacerdote.
Neste caso, o filho em questão, Hanã, não é citado na bíblia. Contudo, analizando ambas as bulas, tanto a de Hanã quanto a de Azarias, os pesquisadores concluiram que foram feiras pelo mesmo artesão. Dessa forma, imaginam que, muito provavelmente, ambos eram irmãos.
Em Jeremias, o Profeta é identificado como filho de Hilquias – nome comum na época -, porém, não há como saber se ele era irmão de Hanã e Azarias, ou filho de um homônimo contemporâneo.
Jazanias
Em Mizpá, em 1932, o arqueólogo William Frederick Bade encontrou um belo selo de cores branca e negra feito de ônix com a seguinte iscrição: Pertencente a Jazanias, servo do Rei. O selo data, mais ou menos, um ano antes da conquista de Jerusalém por Nabucodonossor, em 586.
Dividido em três seções, o selo apresenta, além aa inscrição Servo do Rei, que pode fazer referência a sua posição no governo como como capitão do exército, uma ilustração de um galo de briga. Este elemento gráfico intrigou os pesquisadores.
Não há nenhum indício bíblico sobre estes animais. Porém Bade, o arqueólogo que descobriu a peça, chegou a uma interessante conclusão: não há animal mais adequado para representar um soldado de guerra que um galo de briga.
Dessa forma, contando, não apenas com as inscrições, mas também com a ilustração, este selo possui fortíssimo respaldo acadêmico suportando a ideia de que pertenceu a este personagem bíblico, que era um dos capitães do exército dos Hebreus.
Ouvindo, pois, os capitães dos exércitos, eles e os seus homens, que o rei de babilônia pusera a Gedalias por governador, vieram a Gedalias, a Mizpá, a saber: Ismael, filho de Netanias, e Joanã, filho de Careá, e Seraías, filho de Tanumete, o netofatita, e Jazanias, filho do maacatita, eles e os seus homens. 2 Reis 25:23
Personagens citados em Isaias
O Profeta Isaias
Os arqueólogos anunciaram em 2018 que encontraram, ao lado do local onde a bula do Rei Ezequias (descrita abaixo) foi descoberta , uma bula com o nome Isaias escrito nela. Coinscidência, ou não, o Profeta contemporâneo a Rei Ezequias era o próprio Isaias, que era também seu conselheiro próximo.
O grande problema desta bula, no entanto, é que ela encontra-se fragmentada, gerando dúvidas entre os especialistas em epigrafia na identificação do seu conteúdo total.
O ponto traçoeiro neste caso é a combinação de caracteres presentes nela, pois, o que se consegue ler é “Yesha‘yah[u]”, o nome do Profeta Isaias em hebraico, seguido pelas letras “nvy“. A grande questão é que esta segunda combinação de letras quase forma a palavra profeta em hebraico, faltando o alef (א / ‘), exatamente como a última letra. E, para complicar ainda mais a identificação, esta letra caberia perfeitamente na parte faltante da bula
Outro problema na creditação desta bula ao profeta, para outros pesquisadores, seria a ausência de um artigo antes do termo profeta. Segundo eles nvy nada mais é do que o sobrenome deste indivíduo.
Caso os estudiosos consigam provar que este é uma bula de Isaias, será a primeira referência a este personagem fora da Bíblia.
Sebna servo do Rei
Encontrado em escavações em Lachish no fim da década de 60, a bula em questão estava fragmentada. Nela, era possível ler somente: Shebnayahu «…» Hamelekh, ou seja, Sebna «…» o Rei. Dessa forma, o selo poderia ser tanto de um filho do Rei, ou se um servo. E esta dúvida perdurou por anos…
Foi apenas em 2007, quando o fragmento de uma outra bula apareceu no mercado de antiguidades, que se pode comparar as duas e perceber que, pela similaridade, ambas eram da mesma pessoa. Com isso, chegou-se a conclusão de que o conteúdo original da bula seria: Sebna, servo do Rei, como dito na Bíblia, no livro de Isaias:
Assim diz o Senhor DEUS dos Exércitos: Anda e vai ter com este tesoureiro, com Sebna, o mordomo, e dize-lhe: Isaías 22:15
A Realeza dos Hebreus
Rei Ezequias
Ao longo de anos era comum encontrar bulas no mercado negro com o nome do Rei Ezequias gravado nela. Porém, foi apenas em 2009 que uma bula deste importante Rei bíblico fora encontrada por arqueólogos numa escavação junto ao Monte do Templo, em Jerusalém, sendo este, a primeira bula de um Rei de Judá a ser encontrada por uma equipe de arqueólogos.
A bula, de 13 milíletros de diâmetro e em formato oval, que provavelmente é oriunda de um selo preso a um anel, contém a inscrição em hebraico: “Pertence a Ezequias (filho de) Acaz, Rei de Judá”. Nesta bula também pode-se ver uma placa solar com duas asas de ponta-cabeça e nas laterais o ícone de Ankh, conhecido também como cruz ansata, que simbolizava a vida aos egípcios.
A descoberta desta bula ajudou a entender a quem se referiam outras milhares de gravações similares encontradas em vasos de cerâmica contemporâneos a ela. Dessa forma, pode-se relacionar a inscrição presente neles, lmlk, que em hebraico seria LêMelekh, junto com o escaravelho ou a placa solar, com o Rei Ezequias.
Conhecendo melhor Ezequias
Porém, esta bula não nos ajuda apenas a prova a existência deste Rei, mas também a entendê-lo um pouco melhor.
Os símbolos presentes nela, por exemplo, indicam que o selo foi criado num período tardio da vida do Rei, quando havia uma grande influência assíria sobre ele, princiapalmente pois a placa solar – que tomou o lugar de um escaravelho alado, – era usada também por Senaqueribe, Rei Assírio que sitiou Jerusalém.
Contrariando a Bíblia, os arqueólogos creêm que Ezequias tornou-se um vassado do Reino da Assíria.
Todavia, esta alteração do símbolo não significa apenas uma submissão aos assírios, dizem também os arqueólogos. Ela costumava estar acompanhada de outros fatores. Em alguns casos, indicando a cura de alguma enfermidade. E é exatamente isso que acompanhamos na Bíblia.
No livro sagrado, lemos que o Rei Ezequias sofreu uma praga que pôs em risco a sua vida numa época próxima a invasão Assíria, corroborando esta ideia dos arqueólogos.
Naqueles dias adoeceu Ezequias mortalmente; e o profeta Isaías, filho de Amós, veio a ele e lhe disse: Assim diz o SENHOR: Põe em ordem a tua casa, porque morrerás, e não viverás. «…» E acrescentarei aos teus dias quinze anos, e das mãos do rei da Assíria te livrarei, a ti e a esta cidade; e ampararei esta cidade por amor de mim, e por amor de Davi, meu servo. 2 Reis 20:1-6
Acaz
Assim como Ezequias, além de ser um rei de Judá, citado no Velho Testamento, Acaz é referenciado no Novo como um antepassado de Jesus.
E Uzias gerou a Jotão, e Jotão gerou a Acaz, e Acaz gerou a Ezequias; Mateus 1:9
Contudo, mesmo tendo em sua linhagem figuras de santidade idescutível, à Bíblia, Acaz é considerado um rei mau, pois promoveu a idolatria, fechou as portas do Templo de Deus e sacrificou o próprio filho aos deuses pagãos.
E tomou Acaz a prata e o ouro que se achou na casa do Senhor, e nos tesouros da casa do rei, e mandou um presente ao rei da Assíria. 2 Reis 16:8
Já no que tange a bula, ela fora encontrada num mercado de antiguidades, logo, como vimos, há a dúvida se é uma peça original. No entanto, caso seja uma peça real, nela podemos ver, além das tradicionais informações presentes numa bula, a impressão digital do Rei Acaz!
Esta peça, que faz parte da grande coleção de Shlomo Moussaieff, traz a seu favor, no que tange a credibilidade, o nome não somente de Acaz, como também de seu pai, o Rei Jotão, com a identificação Rei de Juda. Em seus poucos centímetros pode-se ler: Pertence a Acaz (filho de) Jotão, Rei de Juda.
Em contra partida, não há nenhuma outra gravação, como símbolos e ícones, como deveria se imaginas à realeza e vimos anteriormente com a bula de Ezequias. O que se imagina é que, talvez, no suporte do selo em si, como no anel ou pingente, houvesse estes elementos e emblemas reais.
O selo de Usha
Além desta bula pertencente ao próprio Acaz, em 1940 foi encontrado no mercado de antiguidades um selo contemporâneo a ela que ajuda a corroborar, não a bula de Moussaieff, mas a figura histórica de Acaz.
Cunhado em cornalina, uma pedra semi-preciosa alaranjada, este selo em formato de escaravelho e com ícones pagãos egípcios continha os dizeres Pertence a Ushna, servo de Ahaz.
Hoje, este selo está disposto na Universidade de Yale.
Rei Zedequias
Este selo, também desenterrado na Cidade de David, fora divulgado em 2019 contendo a inscrição Pertence a Ikar, filho de Matanias.
Para alguns desatentos, este nome, Ikar, pode não trazer nenhum personagem bíblico a mente. E a pessoa estará correta, até certo ponto.
Nesse caso, a referência à Bíblia não está no nome de quem esta bula pertencia, mas sim do pai dela.
Matanias era o nome do último rei de Judá, que teve seu nome trocado, por Nabucodonossor, para Zedequias.
E o rei de babilônia estabeleceu a Matanias, seu tio, rei em seu lugar; e lhe mudou o nome para Zedequias. 2 Reis 24:17
Dessa forma, por mais que este príncipe, em si, não tenha sido citado em nenhum momento na Bíblia, principalmente pelo término prematuro do reinado do seu pai e do Reino de Judá, a referência que ele traz é de extrema importância à comprovação da existência de mais um rei bíblico.
Jeroboão
A história da bula
A história da bula de Jeroboão talvez seja a mais interessante.
Após ser comprada por um colecionador de antiguidades num mercado beduíno por centavos na década de 80, o novo dono deste artefato arqueológico com menos de 3 centímetros duvidava da veracidade do seu produto.
Toda esta ideia começou a mudar em 2020 quando alguns arqueólogos pediram para estudar esta peça suspeitando da similaridade dela com um antigo selo encontrado em 1904 em escavações em Megido que fora, posteriormente perdido.
A similaridade entre o selo e a bula chamaram a atenção e, para surpresa de todos, após muitos exames técnicos fora descoberto que a bula era real. Dessa forma, os pesquisadores conseguiram comprovar aquela que eles acreditam ser a bula mais antiga já encontrada em Israel.
A bula
Com os dizeres l’Shema eved Yerov’am, que significa Pertence a Shema, servo/ministro de Jeroboão, esta bula não era do Rei Jeroboão II em si, mas sim de um funcionário seu. Informação suficiente para comprovar a existencia de Jeroboão II, o monarqua que passou mais tempo no trono do Reino de Israel.
Além da inscrição, a bula, muito similar ao selo perdido, conta com uma ilustração extremamente interessante, um leão rugindo, indicando o símbolo provavelmente adotado pelo Rei Jeroboão II.
E dormiu Jeoás com seus pais, e foi sepultado em Samaria, junto aos reis de Israel; e Jeroboão, seu filho, reinou em seu lugar. 2 Reis 14:16
Jezabel
Uma das personagens mais marcantes da bíblia é Jezabel – também conhecida como Jezebel – e, alguns pesquisadores, dizem que é possível comprovar a sua existência a partir de um selo.
A Rainha Jezabel tem um papel importantíssimo na Bíblia, mesmo que nos bastidores. Jezabel, além de ser o arquétipo da mulher perversa, era filha do rei fenício Ethabaal, e seu casamento com o Rei Israelita Acabe fora movido, principalmente, por questões diplomáticas. E este casamento se mostrou extramente interessante aos fenícios. Por conta de sua personalidade forte, a Rainha conseguiu influenciar, e muito, seu marido, como o próprio texto bíblico cita:
Porém ninguém fora como Acabe, que se vendera para fazer o que era mau aos olhos do Senhor; porque Jezabel, sua mulher, o incitava. 1 Reis 21:25
Além disso, ela nunca desistiu de professar a sua fé fenícia, sendo devota de Baal. Dessa forma, fez com que Acabe não pecasse somente por ter se casado com ela, uma adoradora de Baal, mas por ter adorado a esta divindade, também:
E sucedeu que (como se fora pouco andar nos pecados de Jeroboão, filho de Nebate) ainda tomou por mulher a Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios; e foi e serviu a Baal, e o adorou. 1 Reis 16:31
O selo
A peça em questão, um selo, é uma das mais bonitas, complexas e interessantes entre todas as ja descritas previamente, porém, bem como sua possível dona, é repleta de controvérsias.
Os problemas com o selo começam em relação ao fato de ser oriundo de uma coleção privada, sendo doado ao Departamento de Antiguidades Israeleneses na década de 60. Dessa forma, não há como saber nem quando foi coletado, tampouco onde .
O selo, em si, carrega quatro letras, YZBL, intercaladas com algumas imagens. Mesmo que alguns estudiosos tenham ao longo do tempo reconhecido similaridades entre a inscrição e o nome de Jezabel, eles tentam não assossiar o selo a famosa e infame Rainha.
Um dos motivo que detem os pesquisadores a darem mais crédito a este selo sendo de Jezabel, além da procedência, é em relação a grafia. Segundo eles, falta no selo – quebrado no topo – duas letras que dariam mais credibilidade quanto a relação dele com Jezabel. A letra א, para se ter a grafia identica ao nome de Jezabel na da bíblia – por mais que da maneira que vemos hoje, tenha-se a mesma sonoridade – e uma letra ל, que significa “Pertence a“.
Numa possível reconstituição, pesquisadores comprovaram que seria possível na área quebrada conter as duas letras faltantes.
Contudo, os demais detalhes reforçam, e muito, a ideia de que este selo, sim, tenha sido desta rainha herege.
Além de ser uma peça muito refinada, o nome em Jezabeel, em si, era um nome raro, mesmo entre os fenícios. Fora isso, este selo com um pouco mais de 3 centímetros é ilustrado com ínumeros símbolos fenícios e egípcios contemporâneos à Rainha.
No topo há uma esfinge alada agachada com um rosto feminino e um corpo de leão e parte da coroa de Isis. Além disso, como na bula de Ezequias, há o símbolo egípcio ankh, que representa a vida. Ainda neste selo, na base, há um disco solar alado, como também se vê na bula de Ezequias, e abaixo dele, um falcão desenhado no estílo egípcio. Ao lado do falcão há duas ilustraçóes de Ureus, uma representação de uma cobra. Por último, o símbolo que se assemelha a uma terceira cobra, é um lotus, que se refere a regeneração.
Este selo é um ótimo exemplo de horror vacui, que é o desejo de preencher todas as superfícies vazias com representações ou ornamentos, típicos da época.
Este selo, como os demais que já vimos, infelizmente, não tem nem a informação de quem seria o pai do dono dele, nem o termo rainha, que dariam mais credibilidade a sua relação com Jezabel. Mas, pelo seu tamanho maior do que o original e tantos detalhes já sugere, por si só, que era de uma pessoa influente e rica. Além disso, as próprias representações artísticas nele já aparentam citar, de uma maneira implícita, que sua dona fosse uma Rainha.
Na cultura egípcia, tanto a coroa de Isis na esfinge alada, os ureus e a flor de lotus são indicações claras de que o dono do artefato seja de uma mulher membro da realeza.
Dessa forma, como a bíblia, o artefato não apenas comprovaria a existencia da Rainha Jezabel, como também a sua origem Fenícia/Egípcia.
A Bíblia é real?
A cada ano, mais e mais artefatos arqueológicos comprovam a existência de personagens históricos citados na Bíblia. Muitos destes achados vão além de pequenos selos e bulas, como estelas e murais.
Com isso, a maioria dos arqueólogos, inclusive os mais céticos, tendem a crer que, se não toda, boa parte dos textos bíblicos são sim verídicos e oferecem uma boa fonte de relatos históricos.
A divergência ocorre apenas no que tange aos milagres e outras formas de manifestações divinas que não deixaram nenhum tipo de registro arqueológico.
Por enquanto, esse cabo de guerra entre ciência e religião ainda continua a existir, mas, aos poucos, principalmente por conta de muitas das descobertas que vimos, ambas começam a confiar mais na outra e tirar proveito desta relação. Quem sabe, num futuro próximo com mais descobertas não venhamos a ter uma plena e proveitosa relação entre ambas?!
A nós, cabe apenas esperar pelas próximas descobertas que venham a provar cada vez mais que a bíblia é real
Fontes:
Em Israel desde 2018, é nativo do Rio de Janeiro. Guia de turismo formado, tenho formação em Biologia e Marketing. Apaixonado por Israel e pela Natureza
Ótimo trabalho! Muito obrigado