Os principais veículos internacionais já começam a indicar o iminente Acordo de Paz entre Israel e Sudão mediados pelos EUA. O terceiro, depois da paz firmada entre Israel e Bharein e Emirados Árabes.
No entanto, por mais que qualquer acordo de paz deva ser muito celebrado, ele traz um algo a mais aos Israelenses. Um sentimento de página virada. Vamos tentar entender o por quê.
A Guerra dos Seis Dias
A história começa em 5 de Junho de 1967, com o início da Guerra dos Seis Dias. Após uma série de tensões nas fronteiras israelenses gerada pelos mais diversos motivos, começou a Guerra que, como o nome diz, durou apenas seis dias. No entanto, mesmo nesse curto intervalo de tempo, Israel conseguiu multiplicar em três vezes o seu território.
De 5 a 10 de Junho, Israel conquistou a Cisjordânia, junto com Jerusalém Oriental, da Jordânia; o Deserto do Sinai, do Egito; e as Colinas do Golan, da Síria. Dessa forma, toda a geopolítica da região alterou-se.
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Contudo, por mais que as perdas de território árabe tenham ocorrido apenas localmente, o resultado da guerra abalou todos os países deste eixo, do Marrocos ao Iraque. Isso, porque nesta época, no apogeu da Guerra Fria, os árabes, apoiados pela findada União Soviética, compartilhavam de um sentimento nacionalista, o Pan Arabismo. Não à toa que, inclusive, as tropas iraquianas lutaram contra Israel nesta guerra.
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A expectativa pela vitória árabe era muito grande, principalmente entre os egípcios, então o principal exército da região. Nasser, seu presidente, inspirava toda o povo árabe com a sua ideologia de unificação dos territórios. Contudo, para que isso ocorresse, precisava a eliminar o pequeno Estado Judeu do mapa. Todavia, com o revés, tudo mudou.
As Primeiras Chances à Paz
Todos os estudiosos do Oriente Médio têm ciência que, desde a criação do Estado de Israel, em 1948, inúmeras tratativas para a paz foram feitas. Tanto por iniciativa israelense, como externa.
Nove dias após a guerra, a primeira oportunidade à paz surgiu. Israel ofereceu devolver o Sinai ao Egito, com a prerrogativa de que o estreito de Tiran não fosse mais fechado, e as Colinas do Golan à Síria, desde que a região fosse desmilitarizada, em troca da paz. Nenhuma das duas ofertas foram aceitas, no entanto.
A Resposta Diplomática Árabe
Com o fim da Guerra e a derrota acachapante dos principais exércitos árabes, fez-se necessária uma resposta deles. Neste momento, diplomática, pois a bélica veria apenas em 1973, com a Guerra de Yom Kipur.
Uma reunião de emergência da cúpula da Liga Árabe, organizada a toque de caixa, ocorreu ainda em 1967. Dessa forma, os países membros conseguiram se orientar, principalmente, em relação a postura com Israel.
Mas quem era A Liga Árabe?
Criada em 1945, num período que as nações árabes começavam a ganhar sua independência, ela tinha como seus primeiros signatários Egito, Iraque, Líbano, Síria e a atual Jordânia. Seu principal objetivo era estabelecer relações mais próximas entre seus Estados Membros e coodenar uma colaboração entre eles. Desse modo, poderiam manter a sua independência e soberania, além de promover os interesses de todos países árabes.
Posteriormente, novos países se juntaram à Liga, que hoje conta com 22 membros.
Com reuniões periódicas, a organizada em Cartum não estava no roteiro. Contudo, tendo em vista os resultados da Guerra dos Seis Dias e a baixa moral árabe, ela se tornou necessária.
A Conferência de Cartum
Esta, que seria apenas a terceira cúpula da Liga, contou com oito participantes signatários: Argélia, Egito, Jordânia, Líbano, Síria, Iraque, Kwait e, o anfitrião Sudão.
Nesta reunião, alguns tópicos foram abordados, tanto referentres as relações de cooperação entre os membros, como também com países externos – referente as sanções da venda de petróleo -; e, claro, a Israel, quanto a sua existência e agora aumento territorial.
É interessante saber que desde no meio da Guerra, mais precisamente dia 6 de junho, havia um embargo na venda de petróleo aos Estados Unidos e alguns países Europeus aliados de Israel. Por mais que nenhuma dessas Nações afetadas tenha sido severamente prejudicada, a resolução desse ponto também atraia os olhos do mundo.
As Resoluções de Cartum
O encontro, no dia 1 de Setembro, gerou uma resolução dois dias após, conhecida como Resoluções de Cartum. A partir dela, surgia uma nova maneira como os árabes e Israel iriam jogar no âmbito de suas políticas externas nos anos seguintes.
Mesmo que sete resoluções tenham sido estabelecidas, a mais conturbada e famosa foi a terceita, conhecida como “Os três nãos de Cartum”.
“Os chefes de Estado árabes concordaram em unir seus esforços políticos em nível internacional e diplomático para eliminar os efeitos da agressão e garantir a retirada das agressivas forças israelenses das terras árabes ocupadas desde a agressão de 5 de junho. Isso será feito dentro da estrutura dos principais princípios pelos quais os países árabes respeitam, ou seja, sem paz com Israel, nenhum reconhecimento de Israel, nenhuma negociação com ele e insistência nos direitos do povo palestino em seu próprio país.”
Em suma, nela estavam indicados as três negativas dos países árabes: em fazer a paz; reconhecer: e estabelecer algum tipo de negociação com Israel. No entanto, por mais radical que esta resolução pareça, aos olhos dos cientistas políticos, ela abria as portas para que uma terceira parte fizesse a ponte entre ambos os lados. Papel adotado pelos EUA posteriormente.
Outra resolução foi a suspensão do embargo do Petróleo. Além dele não ter gerado muito efeito, eles perceberam que o dinheiro da venda deste bem poderia ser utilizado para reequipar militarmente os países derrotados na guerra.
Os Acordos de Paz de Israel
Com o passar dos anos, a situação na região não evoluiu em direção ao paz. Ao contrário, novas guerras ocorreram, como a Guerra de Yom Kipur.
Apenas em 1979, a situação começou a mudar.
Neste ano, Egito e Israel firmavam o primeiro acordo de paz da região, com o intermédio Americano. 15 anos depois, foi a vez da Jordânia, também com a ajuda dos EUA. E ,no ano 2020, depois de muitos avanços diplomáticos de Israel com outros países signatários da Resolução de Cartum, como a Arábia Saudita, provavelmente teremos nos próximos dias a paz com Sudão. Provavelemente o mais simbólico de todos, o país anfitrião da Resolução de 67. Com o paz se firmando, teremos quase 40% dos signatários dos três não, sim, reconhendo o país, sim, negociando com ele, e sim, fazendo a paz com Israel.
Num período conturbado, mesmo que a futura assinatura do acordo seja também fruto de tramas políticas mais profundas, todo caminho à paz tem que ser celebrado.
Não restam dúvidas, também, que ambos países irão se beneficiar a partir deste acordo. Assim como tem sido visto nas relações econômicas entre Israel, Dubai e Bahrein, que floresceram em tão pouco tempo.
A torcida é que a assinatura ocorra em breve e abra também as portas para todos os demais países e povos que buscam a paz. Todos em Israel esperam por mais acordos de braços abertos.
Fonte:
Jpost; Jewish Virtual Library;
Em Israel desde 2018, é nativo do Rio de Janeiro. Guia de turismo formado, tenho formação em Biologia e Marketing. Apaixonado por Israel e pela Natureza