Mais do que uma das sete epécies da Bíblia, a oliva – também chamada pelo seu nome de origem semítica, azeitona (‘az-zaytūna‘ em árabe e zayit em hebráico) – é o fruto da Oliveira, árvore que, bem como seus ramos e seu azeite, tem um profundo significado, não só à Bíblia Cristã como a tantas outras fés.
Sendo a Oliveira a árvore mais citada tanto no Velho, quanto no NovoTestamento, além do Alcorão, ela representa aos fieis elementos como a santidade divina, a paz, Israel, o povo judeu, os cristãos e até mesmo o próprio Jesus. Estas menções à árvore são tantas e tão diversas que se encontram nas mais variadas forma, que vão desde metáforas e alegorias, a referências claras de como era o seu uso tanto na vida diária, nos sacrifícios e à construção de elementos ao Templo Sagrado de Jerusalém.
Dentre tantas, talvez a passagem mais marcante de todos os livros sagrados, ou pelo menos a mais famosa, é a sua primeira, ainda em Gênesis 8:11, com a pomba retornando a Noé com um ramo – ou folhas, dependendo da tradução – de Oliveira em seu bico após o dilúvio.
E a pomba voltou a ele à tarde; e eis, arrancada, uma folha de oliveira no seu bico; e conheceu Noé que as águas tinham minguado de sobre a terra. Gênesis 8:11
Contudo, seria leviano dizer que é a mais importante. Como veremos abaixo, a sua importância é tanta que está, de certa forma, no próprio nome de Jesus de Nazaré.
Menções à Oliveira na Bíblia e demais livros sagrados
A Oliveira no Velho Testamento
Entre todos os livros sagrados, é no Velho Testamento que referências a Oliveira, a Oliva e a seu azeite estão presentes não apenas em maior quantidade, como também das mais distintas formas, a partir de metáforas, parábolas, instruições ritualisticas e de outras tantas formas.
Metáforas e Parábolas com a Oliveira
A partir desse recurso linguístico a Oliveira e seu fruto são citados diversas vezes na bíblia não representando a árvore propriamente dita, mas ajudando a transmitir uma mensagem ou ensinamento de uma maneira mais lúdica, a partir desta alegoria.
Um bom exemplo do uso dessa figura de linguagem, que reflete a importância da árvore a Deus e ao Homem, ocorre na Parábola de Jotão, em em Juizes 9:8-9:
“Foram uma vez as árvores a ungir para si um rei e disseram à oliveira: Reina tu sobre nós. Porém a oliveira lhes disse: Deixaria eu a minha gordura, que Deus e os homens em mim prezam, e iria a labutar sobre as árvores?”
Um outro bom exemplo desse tipo de citação à Oliveira acontece em Zacarias 4, quando, além de uma clara referência à Menora que, por sua vez, usa o óleo de oliva como combustível às suas velas, apresenta também duas Oliveiras ao lado dela representando Zorobabel e Josué, o governante e o alto sacerdote respectivamente, os dois untados desta época. Além disso, há a mensagem de Deus encorajando seu povo a não confiarem sua fé em questão financeira ou recursos militares, mas sim no poder divino agindo por eles, sendo o Espirito Santo representado pelo azeite de oliva.
E o anjo que falava comigo voltou, e despertou-me, como a um homem que é despertado do seu sono, E disse-me: Que vês? E eu disse: Olho, e eis que vejo um castiçal todo de ouro, e um vaso de azeite no seu topo, com as suas sete lâmpadas; e sete canudos, um para cada uma das lâmpadas que estão no seu topo. E, por cima dele, duas oliveiras, uma à direita do vaso de azeite, e outra à sua esquerda. E respondi, dizendo ao anjo que falava comigo: Senhor meu, que é isto? Então respondeu o anjo que falava comigo, dizendo-me: Não sabes tu o que é isto? E eu disse: Não, senhor meu. E respondeu-me, dizendo: Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel, dizendo: Não por força nem por violência, mas sim pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos. […] Respondi mais, dizendo-lhe: Que são as duas oliveiras à direita e à esquerda do castiçal? E, respondendo-lhe outra vez, disse: Que são aqueles dois ramos de oliveira, que estão junto aos dois tubos de ouro, e que vertem de si azeite dourado? E ele me falou, dizendo: Não sabes tu o que é isto? E eu disse: Não, senhor meu. Então ele disse: Estes são os dois ungidos, que estão diante do Senhor de toda a terra. – Zacarias 4
Outra passagem de extrema importância na qual há uma metáfora relacionada a Oliveira ocorre em Jeremias 11:16-17, na qual, pelo uso dela, a árvore representa o povo de Israel que, mesmo com seus deliciosos frutos – que seriam os profetas que trazem a revelação divina – teve seus ramos quebrados ao adorar o deus pagão Baal.
Denominou-te o Senhor oliveira verde, formosa por seus deliciosos frutos, mas agora à voz de um grande tumulto acendeu fogo ao redor dela e se quebraram os seus ramos. Porque o Senhor dos Exércitos, que te plantou, pronunciou contra ti o mal, pela maldade da casa de Israel e da casa de Judá, que para si mesma fizeram, pois me provocaram à ira, queimando incenso a Baal. Jeremias 11:16,17
Porém, poucas referências têm tamanha importância, principalmente aos crentes em Jesus, que a presente em Isaias 11:1. Nela há, não somente a indicação de que o Messias virá de um tronco de Jessé a partir de um broto seu, indicando uma referência a Oliveira e a casa de David, mas também uma pista também pela escolha das palavras, que o Messias será Jesus
Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará.
Por mais que na versão em português não esteja claro esta referência, o termo usado para rebento na versão hebraica original é Netzer / נצר, um palavra exclusiva para os ramos da Oliveira. E, tão importante quanto isso, é também o radical de Nazareth (נצרת) cidade na qual Jesus foi criado e também conhecido, o Jesus de Nazareth.
Em outras citações, a Oliveira na Bíblia é comparada a Deus, como em Oséias 14:5,6, enquanto que em outras, é David se compara a ela.
Eu serei para Israel como o orvalho. Ele florescerá como o lírio e lançará as suas raízes como o Líbano. Estender-se-ão os seus galhos, e a sua glória será como a da oliveira, e sua fragrância como a do Líbano. Oséias 14:5,6
Mas eu sou como a oliveira verde na casa de Deus; confio na misericórdia de Deus para sempre, eternamente.Salmos 52:8
Esta comparação que o Rei David faz, por sua vez, é, novamente, de extremo interesse aos fieis cristãos pois nela há a clara conexão entre ele, Jesus,e a Oliveira, fortificando ainda mais a crença nele como o Messias, como veremos mais adiante.
Por fim, uma outra metáfora referente a Oliveira ocorre em Salmos 128:3, que indicam os inúmeros brotos de Oliveiras ao redor da árvore mãe, os seus rebentos, como as gerações futuras do homem que teme ao Senhor.
A tua mulher será como a videira frutífera aos lados da tua casa; os teus filhos como plantas de oliveira à roda da tua mesa. Eis que assim será abençoado o homem que teme ao Senhor.
A Oliveira na Bíblia como alimento e remédio
Apesar de toda a santidade conferida as suas partes e derivados, eram o azeite e a azeitona que tinham suas utilidades mais rotineiras dentro do dia-a-dia dos israelitas e demais povos. A prova disso, encontra-se no Velho Testamento, que faz menção, tanto em em Neemias 9:25 para fins alimentícios, como em Isaias 1:6 do uso de seu óleo para amolecer chagas e tratar doenças.
Conquistaram cidades fortificadas e terra fértil; apossaram-se de casas cheias de bens, poços já escavados, vinhas, olivais e muitas árvores frutíferas. Comeram até fartar-se e foram bem alimentados; eles desfrutaram de tua grande bondade. Neemias 9:25
Desde a planta do pé até a cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas podres não espremidas, nem ligadas, nem amolecidas com óleo. Isaias 1:6
Contudo, dentro das citações relacionando a árvore a rotina diária, a que mais chama a atenção é quando em Deuteronômio 24:20 é retratado o processo da colheita do fruto, que é muito similar ao que acontece hoje, com a árvore e seus galhos sendo chacoalhados fazendo com que os seus frutos caiam.
Quando sacudires a tua oliveira, não voltarás para colher o fruto dos ramos; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será. Deuteronomio 24:20
À Produção de Mobília Sagrada
Um outro uso à Oliveira na Bíblia, e que também pode ser visto em qualquer loja de artesanato e de turistas aqui em Israel, era a produção de utensilhos a partir de sua madeira. Contudo, segundo a Bíblia, a madeira de Oliveira não foi usada para qualquer ornamentação.Muito pelo contrário, ela tinha um propósito santo. Como dito em 1 Reis 6, além das portas e umbrais da entrada o oráculo do Templo de Salomão serem feitos a partir desta madeira, os Querubins que cercavam a arca também foram esculpidos em Oliveira, indicando toda a santidade desta madeira na região.
E no oráculo fez dois querubins de madeira de oliveira, cada um da altura de dez côvados. 1 Reis 6:23
E à entrada do oráculo fez portas de madeira de oliveira; o umbral de cima com as ombreiras faziam a quinta parte da parede. Também as duas portas eram de madeira de oliveira; e lavrou nelas entalhes de querubins, e de palmas, e de flores abertas, os quais revestiu de ouro; também estendeu ouro sobre os querubins e sobre as palmas. E assim fez à porta do templo ombreiras de madeira de oliveira, da quarta parte da parede. 1 Reis 6:31-33
A Oliveira como um produto da Terra de Israel
Uma outra forma dentro da qual a Oliveira é citada na Bíblia é a partir de seu azeite, porém, representando a fartura e os produtos da Terra de Israel.
Esta referência, em Deuteronômio 8:8, que indica também as sete espécies, bem como em 2 Reis 18:32, não fazem apenas referência à Israel, mas também coloca a Oliveira e seu azeite como bens de qualidade pelos quais ele seria conhecido.
Terra de trigo e cevada, e de vides e figueiras, e romeiras; terra de oliveiras, de azeite e mel. Deuteronômio 8:8
Até que eu venha, e vos leve para uma terra como a vossa, terra de trigo e de mosto, terra de pão e de vinhas, terra de oliveiras, de azeite e de mel; e assim vivereis, e não morrereis; e não deis ouvidos a Ezequias; porque vos incita, dizendo: O Senhor nos livrará. 2 Reis 18:32
O uso do Óleo de Oliva para motivos religiosos
Dentro de todas as citações em todos os livros sacros, não há nenhuma referência em maior quantidade ao uso do Óleo, ou Azeite de Oliva para fins religiosos, seja relacionado à unção, sacrifício e até ascendimento das lamparinas.
A primeira menção para este fim, já aparece em Gênesis, com Jacó usando o azeite como um óleo sacrificial.
Na manhã seguinte, Jacó pegou a pedra que tinha usado como travesseiro, colocou-a de pé como coluna e derramou óleo sobre o seu topo. Gênesis 28:18
Já em Êxodo, há citações claras do uso do azeite para ascender a Menorah do tabernáculo, bem como para a realização do serviço sacerdotal, para unção – como Moisés fez com Aarão – e sendo parte do sacrifício diário, como podemos ver, respectivamente, nos versículos abaixo
Azeite para a luz, especiarias para o óleo da unção, e especiarias para o incenso. Êxodo 25:6
Isto é o que lhes hás de fazer, para os santificar, para que me administrem o sacerdócio: Toma um novilho e dois carneiros sem mácula, E pão ázimo, e bolos ázimos, amassados com azeite, e coscorões ázimos, untados com azeite; com flor de farinha de trigo os farás. Êxodo 29:1,2
E tomarás o azeite da unção, e o derramarás sobre a sua cabeça; assim o ungirás. Êxodo 29:7
Com um cordeiro a décima parte de flor de farinha, misturada com a quarta parte de um him de azeite batido, e para libação a quarta parte de um him de vinho, E o outro cordeiro oferecerás à tarde, e com ele farás como com a oferta da manhã, e conforme à sua libação, por cheiro suave; oferta queimada é ao Senhor. Este será o holocausto contínuo por vossas gerações, à porta da tenda da congregação, perante o Senhor, onde vos encontrarei, para falar contigo ali. Êxodo 29:40-42
Outro dado interessante, também citado em Êxodo, é a receita com os ingredientes e suas medidas deste óleo de unção que, por sua vez, também seria usado para ungir o tabernáculo, a arca da aliança, a tábua do pão da proposição, a menorah, o altar, o lavatório das mãos.
Tu, pois, toma para ti das principais especiarias, da mais pura mirra quinhentos siclos, e de canela aromática a metade, a saber, duzentos e cinqüenta siclos, e de cálamo aromático duzentos e cinquenta siclos, E de cássia quinhentos siclos, segundo o siclo do santuário, e de azeite de oliveiras um him. E disto farás o azeite da santa unção, o perfume composto segundo a obra do perfumista: este será o azeite da santa unção. E com ele ungirás a tenda da congregação, e a arca do testemunho, E a mesa com todos os seus utensílios, e o candelabro com os seus utensílios, e o altar do incenso. E o altar do holocausto com todos os seus utensílios, e a pia com a sua base. Assim santificarás estas coisas, para que sejam santíssimas; tudo o que tocar nelas será santo. Também ungirás a Arão e seus filhos, e os santificarás para me administrarem o sacerdócio. E falarás aos filhos de Israel, dizendo: Este me será o azeite da santa unção nas vossas gerações. Êxodo 30:23-31
Outras citações de uso do azeite para unção e sacrifícios são frequentes ao longo do pentateuco e nos livros seguintes, porém, ela se torna novamente relevante com o criação da monarquia judaica, sendo ele peça importantíssima nas nomeações dos Reis de Israel, primeiro com Saul, e, depois, David e posteriormente, os demais Reis.
Então tomou Samuel um vaso de azeite, e lho derramou sobre a cabeça, e beijou-o, e disse: Porventura não te ungiu o SENHOR por capitão sobre a sua herança? 1 Samuel 10:1
Finalmente, o Senhor disse a Samuel: “Não há razão para continuares a ter pena de Saul, porque o rejeitei como rei de Israel. Pega num recipiente com azeite e vai a Belém encontrar-te com um homem chamado Jessé. Escolhi um dos seus filhos para ser o novo rei.” 1 Samuel 16:1
E toma o vaso de azeite, e derrama-o sobre a sua cabeça, e dize: Assim diz o Senhor: Ungi-te rei sobre Israel. Então abre a porta, foge, e não te detenhas. 2 Reis 9:3
A Oliveira dentro da Mensagem Divina
Contudo, a passagem que faz referência a esta árvore que é mais famosa da Oliveira na Bíblia, como já vimos, seja a de Gênesis 8:11, na qual, ela aparece na forma de uma folha, ou ramo de acordo com a tradução, sendo carregada por uma pomba em direção a Noé indicando que o nível das águas estava voltando ao normal após o dilúvio.
Quando voltou ao entardecer, a pomba trouxe em seu bico uma folha nova de oliveira. Noé então ficou sabendo que as águas tinham diminuído sobre a terra. Gênesis 8:11
Graças a esta passagem, o ramo de oliveira tornou-se um símbolo da paz e reconsciliação desde o tempo do dilúvio de Noé até os dias de hoje. Quando a pomba traz um ramo desta árvore, ele representa que uma nova vida está brotando na terra e a promessa de um novo início para a humanidade, de paz, reconsciliação com Deus, ou seja, um renascimento. Dessa forma, para alguns teólogos, a folha sendo de uma Oliveira não foi mero acaso pois, como vimos, há uma clara referência entre esta árvore e Jesus que, por sua vez, já renasceu uma vez e o próximo retorno é aguardado.
Novo Testamento
As referências à Oliveira na Bíblia não estão restritas ao Velho Testamento. Tanto a Oliveira, quanto seu azeite, são representados no Novo Testamento em formas que já foram observadas anteriormente.
Teológicamente, as mais importantes são as metáforas que, seguindo Isaias e Jeremias, comparam tanto Jesus quanto a linhagem de Jessé – o pai do Rei David -, a Oliveiras, porém, referências ao contínuo uso do azeite à unção, alimentação e tratamento de doentes nos mostra a continua importância desta árvore.
Metaforas com a Oliveira
Numa clara referência a Zacarias 4, que ja vimos previamente, a citação em Apocalipse 11:4, João representa as duas testemunhas que são levantadas por Deus para profetizar sobre as nações como as Oliveiras. Neste caso, segundo teólogos, o azeite produzido por estas Testemunhas/Oliveiras será o combustível destes dois candelabros – em Zacarias havia apenas um, a Menora – que são a representação das Igrejas, permitindo que os cristãos brilhem diante de Deus. Estas Testemunhas, por sua vez, assim como Zorobabel e Josué, no Antigo Testamento, têm como missão gerar este óleo a partir da verdade divina.
Estas são as duas oliveiras e os dois castiçais que estão diante do Deus da terra. Apocalipse 11:4
Em outra referência à Oliveira, esta, talvez, uma das mais relevantes, em Romanos 11:16-24, Paulo usa a imagem da Oliveira citada em Jeremias 11:16-17 para lembrar a o povo escolhido e Deus, ensinando uma aos gentios que as Oliveiras cultivadas representam o povo de Israel e as Zambujeiras – Oliveiras Selvagens – os demais, como os próprios gentios.
Contudo, dentro dessas Oliveiras Cultivadas, Deus podaria os ramos que não gerassem frutos, enxertando ramos do Zambujeiro em seu lugar, dando a oportuidade aos gentios, que também eram crentes a Deus, de se juntar aos judeus como os seus escolhidos.
Outro fato importante nisso é a menção a raiz continuar intacta, pois, neste mesmo livro, quatro capítulos adiante, Paulo iria novamente fazer menção a raiz da Oliveira e sua simbologia.
E, se as primícias são santas, também a massa o é; se a raiz é santa, também os ramos o são. E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles, e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, Não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. Dirás, pois: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado. Está bem; pela sua incredulidade foram quebrados, e tu estás em pé pela fé. Então não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que não te poupe a ti também. Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas para contigo, benignidade, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira também tu serás cortado. E também eles, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar. Porque, se tu foste cortado do natural zambujeiro e, contra a natureza, enxertado na boa oliveira, quanto mais esses, que são naturais, serão enxertados na sua própria oliveira! Romanos 11:16-24
Utilizando os ensinamentos de Isaias 11, Paulo nos apresenta, em Romanos 15:12, esta importante conjugação entre Jesus, David e a Oliveira, numa clara menção ao Velho Testamento, bem como João faz em Apocalipse 22:16.
Brotará a raiz de Jessé, aquele que se levantará para reinar sobre os gentios; estes colocarão nele a sua esperança. Romanos 15:12.
Eu, Jesus, enviei o meu anjo para dar a vocês este testemunho concernente às igrejas. Eu sou a Raiz e o Descendente de Davi, e a resplandecente Estrela da Manhã. Apocalipse 22:16
O interessante é que nos textos do Novo Testamento, não há a clara menção que esta raiz seria de uma Oliveira, contudo, como eles fazem referência a Isaias 11:1 e na sua versão em hebraico deste livro é netzer, que, como vimos, só pode ser utilizado a Oliveiras, podemos chegar a conclusão que ambos apóstolos se referenciavam a ela.
Desta forma, temos, referenciada. a anatomia completa de da Oliveira na Bíblia, sendo a raiz David, Jesus o broto, de onde todo o tronco irá se desenvolver, e os ramos, como gentíos e Judeus, de onde se retira o as azeitonas, para posterior produção do azeite, que representa o Espírito Santo.
Para muitos estudiosos, o uso da expressão a Raiz de Jesse chama à humanidade de Jesus, com o messias possuíndo um ancestral humano, e também sublinhando a origem humilde de Jesus. Isto é, o termo “Filho de Jessé” – 1 Samuel 20:27 – era usado como algo pejorativo pelo Rei Saul para chamar por David, indicando a sua origem humilde.
A Oliveira na Bíblia como óleo de unção, alimento e remédio
E não apenas por metáforas a Oliveira é citada no Novo Testmento. Algumas referências a ela indicam que ela continuava a ser uma árvore importante no dia a dia local, principalmente seu azeite que, como vimos, desde os tempos de Moisés, era utilizado aos mais diversos fins.
O uso mais imblematico deste azeite no Antio Testamento, é à unção, e seu uso continuariaa a ser aplicado a este fim durante o periodo de Jesus. A prova disso encontra-se em João 2:27:
E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis. 1 João 2:27
Já em Tiago 5:14,15, há a clara indicação de que quando uma pessoa está doente, um sábios da Igreja deveria realizar rezas e unção para que a enfermidade fosse tratada.
Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Tiago 5:14,15
Contudo, não apenas para fins ritualisticos o azeite era empregado. No dia a dia, como lemos na parábola do Bom Samaritano, em Lucas 10:34, ao ser socorrido, o homem atacado recebe do samaritano, além de vinho, azeite.
E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; Lucas 10:34
Alcorão
O Islamismo sugiu na atual Árabia Saudita, não muito longe de Israel, com Maomé, um viajado comerciante. Dessa forma, por ter a Oliveira compondo as paisagens que viajava, e, ao mesmo tempo, ter o contato com tribos judaicas da região e alguns cristãos não é de se surpreender que esta árvore também seja citada, inclusive com alguma santidade, no Alcorão, o livro sagrado aos muçulmanos.
Ao todo, são sete vezes que há a menção a Oliveira, Azeitona ou ao seu óleo, sendo sempre referenciada com louvor e indicando a sua preciosidade e com o seu uso nos mesmos fins dos demais livros sagrados.
Dentro destas passagens, há duas que valem a pena a menção. A da Surata 24, na qual a grande luminecência do óleo de oliva é ilustrada numa parábola, fazendo uma referência a luz que Deus leva a quem lhe é fiel:
Deus é a Luz dos céus e da terra. O exemplo da Seu Luz é como o de um nicho em que há uma candeia; esta está num recipiente; e este é como uma estrela brilhante, alimentada pelo azeite de uma árvore bendita, a oliveira, que não é oriental nem ocidental, cujo azeite brilha, ainda que não o toque o fogo. É luz sobre luz! Deus conduz a Sua Luz até quem Lhe apraz. Deus dá exemplos aos humanos, porque é Onisciente. Surata 24
Porém, uma das mais interessantes referências encontra-se na Surata 95, que a clara menção ao fruto da oliveira, para alguns intérpretes, significa Jerusalém, a terceira cidade mais sagrada aos muçulmanos:
Pelo figo e pela oliva, Pelo monte Sinai, E por esta metrópole segura (Makka), Que criamos o homem na mais perfeita proporção. Então, o reduzimos à mais baixa das escalas, Salvo os fiéis, que praticam o bem; estes terão uma recompensa infalível. Quem, então, depois disso, te contradirá, quanto ao Dia do Juízo? Acaso, não é Deus o mais prudente dos juízes? Surata 95
Já nas Hadith, o corpo de leis, lendas e histórias sobre a vida de Maomé, também há passagens referenciando-a, inclusive uma na qual o Profeta disse:
Pegue o óleo de oliva e faça uma massagem com ele – é uma árvore sagrada Sunan al-Darimi, 69:103.
Tradição
Fora das citações à Oliveira na Bíblia e demais escrituras sagradas, a árvore, a oliva e o azeite ainda carregam consigo inúmeras tradições e lendas dentro das religiões.
A Oliveira no Judaísmo
Dentro do Judaismo não só a Oliveira, mas como a Oliva também, carregam um grande significado espiritual. Isso pode-se ver pelo fato de, por ser uma das sete espécies (Deuteronômio 8:8), de acordo com a Halacha, ou seja, a lei judaica, para o seu consumo é necessário uma reza específica, a Ahat meein Shalosh (אחת מעין שלוש).
Além disso, no cotidiano judaico, numa tradição representando o ascendimento da Menora da época do Templo, às velas de shabat, acesas as sextas-feiras a noite, é recomendado que seja usado o óleo de oliva e não velas tradicionais com parafina.
Outro ítem que não poderia faltar dentro da tradição judaica são as analogias e lendas em relação a esta árvore. As mais conhecidas, e que inclusive têm também uma referência bíblica, comparam Israel a uma Oliveira por diversos motivos. Seja por conta de suas folhas, que não caem nem na estação chuvosa, nem na seca, assim será com o povo de Israel que nunca irá cair, nem neste mundo, nem no próximo pelo seu azeite; ou pelo seu azite que, tanto iluminará a todos, como também é produzido após muita pressão, assim como o Povo de Israel que não retorna a sua devoção divina se não for por um grande sofrimento.
Em relação às lendas, é dito que quando o Rei Salomão morreu, as árvores de seu jardim entraram de luto. O figo, a parreira e a árvore de romã, perderam suas folhas verdes. Porém, a oliveira não fez o mesmo. Dessa forma, as outras árvores perguntaram a ela: Você, rainha das árvores, não há nada mais indelicado para você do que não sofrer a morte do nosso rei? E a oliveira respondeu: Você derramou suas folhas para que todos pudessem ver sua tristeza, mas minha tristeza está escondida em meu coração e é maior que a sua, pois eis que meu coração está seco e a seiva de meu tronco secou! Um conto similar é dito sobre as oliveiras na destruição do Templo.
A Oliveira no Cristianismo
Já dentro do cristianismo, a Oliveira apresenta, também, muitos significados e interpretações. A vida de Jesus, inclusive, está intrinscicamente ligada a esta árvore. Ele foi criado na vila de Nazaré, que, como vimos, tem seu nome como referência aos ramos que brotam das raízes das oliveiras; inúmeras passagens bíblicas ocorrem no Monte das Oliveiras, em Jerusalém: e ele é capturado pelos Romanos, não só no sopé deste Monte, como numa área conecida como Getsmane, ou seja, Gat Shmane, prensa de óleo, em hebraico.
Desta forma, não é de se surpreender que uma dessas tradições, tal qual o judaismo, também cria um paralelo entre todo o processo de produção do óleo como uma metáfora ao sofrimento de Jesus. Nesta tradição, diz-se que as olivas, sendo amassadas e batidas para produzir o óleo, representam um processo análogo a Jesus sendo açoitado e preso na cruz, para que assim seu Espírito Santo fosse derramado sobre a Igreja após a sua acensão ao céu. Em resumo, Jesus seria a Oliveira de Deus e seu Espírito Santo, seu óleo. E, por conta disso, não por mera coinscidência, a sua reza agozinante se deu no Gethsemane rodeado por oliveiras.
No entanto, esta conexão do cristianismo com o a Oliveira não se extingue somente a teologia, sendo também transportada à representações de arte sacra.
Po conta das referências de Isaias, Matheus e Lucas citando, tanto que o Messias viria das raízes de Jessé, quanto indicando que Jesus fazia parte desta linhagem, tradicionalmente, criou-se a representação artística conhecida como a Árvore de Jessé na qual, tanto em tapetes, pinturas e até gravações em madeira, a árvore genealógica de Jessé é representada a partir de uma Oliveira, com ele sendo a raiz e Jesus um dos seus descendentes.
Esta representação artística é tão tradicional que na própria Igreja da Natividade, em Belém, pode-se encontrar uma que, digamos, seja uma versão expandida. Com mais de 3 metros de comprimento e 4 de altura, ela começa em Abraão e mostra todas seus descendentes até Jesus Cristo.
Essas referências não acabam por aí. Há inúmeras interpretações teológicas dentro do cristianismo que se aprofundam muito mais sobre a santidade e as menções da Oliveira na Bíblia, com algumas indicando algumas passagens do Velho Testamento. Um exemplo encontra-se na prefiguração em Isaias 11: quando o julgamento divino estava caindo sobre Judá e a nação seria deixada sem nada, somente um fraco broto, mas que, ainda com vida, contaria com a promessa de Deus em manter um remanescente para continuar o seu trabalho a partir da linhagem do Rei David. Ou seja, o que parecia estar morto, renasceria, assim como aconteceria posteriormente com Jesus.
A Oliveira no Islamismo
Dentro do Islamismo, como não poderia deixar de ser, a Oliveira também está presente das mais diversas formas dentro de suas tradições, tanto do ponto de vista alimentar, estético e, claro, religioso.
Por exemplo, é tradição, durante o mês do Ramadã, acabar o jejum diário com azeitonas, caso tâmaras não estejam a disposição, além das folhas da Oliveira serem usadas como um incenso. Além disso, a partir da madeira de Oliveira são produzidas as contas da Masbaha, instrumento religioso de auxílio à reza e concentração.
Já no ponto de vista religioso, o uso de azeite na prática da fé ajudaria a invocar a palavra divina de tal modo que, de acordo com alguns estudiosos, Maomé, de tanto usar deste óleo em suas devoções religiosas, tinha seu xale de oração saturado dele. Com isso, alguns religiosos ainda se untam com azeite antes de algumas rezas.
Outro elemento importante relacionado a Oliveira e incorporado na tradição islâmica é em relação à ornamentação. Muito rígidos quanto ao uso de representações de imagens de pessoas ou animais em sua arte, eles acabam por se apropriar de elemntos da natureza como flores e plantas. Desta forma, a Oliveira, não só por ser algo presente no dia a dia da paisagem local, mas também por toda a sua santidade, passou a desempenhar um um papel importante na decoração dos tapetes de oração usados pelos muçulmanos quando oram a Alá.
Estas belas imagens desta árvore ilustradas nos tapetes visam encorajar a devoção e a contemplação religiosas, com algumas contendo ainda a representação uma lanterna pendurada em um de seus galhos com a intenção de representar o paraíso celestial e inspirar o adorador a “o caminho dos justos”.
Localmente, o tradicional Sabão de Oliva produzido em Nablus e Jaffa, era era um dos principais produtos de exportação local até o início do século vinte quando perdeu o posto para as Laranjas de Jaffa.
A Oliveira em Israel nos dias de hoje
Como vimos, a Oliveira, também conhecida pelo seu nome científico, Olea europaea, é uma árvore de extremo valor simbólico e religioso na região levantina. Contudo, esta árvore de pouca altura e tronco retorcido ,não está presente só nesta área do globo, estando também dispersa pelas costas norte e oriental do Mediterrâneo, chegando até ao Mar Cáspio e Irã, com o seu primeiro registro arqueológico datando há mais de 20 milhões de anos, na Itália. Essa ampla distribuição e antiga presença nas primeiras áreas de colonização humana, permitiu que diversas culturas desenvolvessem uma intrinscica relação com esta árvore, como pôde ser visto na relação das três principais religiões com ela.
Conheça mais sobre outras árvores citadas na bíblia: Amendoeira, Árvore de Judas, Tamarigueira de Abraão, Alfarroba e Zaatar
No entanto, os registros arqueológicos apresentam a oliva como parte da alimentação há muito mais tempo do que contado nos livros sagrados. Na região de Haifa, no norte de Israel, há registros dos caroços e prensas mais antigos do mundo, com mais 6 mil anos, num período anterior Abraão por exemplo.
Este milenar cultivo, além de registros arqueológicos, também dá a Israel árvores milenares, vivas até o dia de hoje, que puderam testemunhar muito da história bíblica.
A tradição diz que as Oliveiras mais antigas do país encontram-se nas cidades árabes da região da Galiléia de nome Arraba e Deis Hanna, com os locais acreditando que elas teriam 3 mil anos, e ainda produzindo olivas.
Já no Jardim do Getsemane, algumas Oliveiras alí presente, segundo a crença local, estavam lá na época de Jesus e acompanharam de perto os momentos finais de sua passagem por Jerusalém.
Pesquisas genéticas foram inconclusivas quanto a real idade das árvores do Getsemane, pois, não havia material para ser coletado nas partes mais antigas das árvores, porém, sabe-se que ela já estava presente no jardim desde 1092 da Era Comum.
Porém, todo este potencial que Israel teria junto as Oliveiras, parecia ter terminado junto com o seu período bíblico. Por mais que durante o Período Otomano, bem como ainda quando um Protetorado Britânico, o principal produto exportado fosse o sabão de Oliva, o azeite, em si, não era explorado como em outrora. Contudo, isso iria mudar, após mais de 40 anos da criação do Estado de Israel.
No início da década de 90, a indústria do azeite de oliva voltava àquela região onde havia surgido, contando hoje com quase 90 mil acres de Oliveiras produzindo 16 toneladas de, exclusivamente, azeite extra virgem. Esta, por sinal, uma característica única de Israel. Enquanto em outros países, os azeites são produzidos em graduações menores, os produtores Israelenses se limitam a extrair apenas o mais puro e sagrado azeite, oriundo da primeira prensa das olivas.
A colheita ocorre entre Outubro e Dezembro e a maioria das Oliveiras é irrigada com água oriunda do tratamento do esgoto.
Contudo, engana-se quem pensa que a Oliveira faz parte apenas da paisagem e economia local. Elementos dela podem ser vistos nos mais diversos locais, como nos emblemas da nação, de cidades, como Haifa e Ramla, e do Éxército, que contempla também o ramo de oliveira no distintivo dado aos graduados no curso de Oficiais. Além disso, no dia a dia local, é costume ver israelenses carregando folhas de Oliveira na carteira como amuleto de sorte.
Dessa forma, a Oliveira continua presente em Israel não apenas como parte do paisagismo urbano, mas sim como lembrança do seu grandioso passado e e importância religiosa, sem deixar de lado seu potencial econômico.
Estando em Israel, não deixe de, além de provar o delicioso azeite local, procurar pelas sempre verdes Oliveiras e seus rebentos e, assim, entender um pouco mais da Oliveira não só na bíblia mas também no dia a dia local.
Fontes:
https://olyvenbosch.co.za/biblical-mystery-of-the-olive-tree/
https://www.sefaria.org.il/topics/olives?tab=sources
Em Israel desde 2018, é nativo do Rio de Janeiro. Guia de turismo formado, tenho formação em Biologia e Marketing. Apaixonado por Israel e pela Natureza
Parabéns! estava pesquisando sobre a oliveira na bíblia, encontre essa maravilha… DEUS, te abençoe abundantemente a sua vida.