Feira do Levnte

A História da Feira do Levante é uma síntese da história da região.

Onde fica o Levante?

Durante o início do Sec XIX, toda a região Levantina, porção do Oriente Médio onde Israel se encontra, estava entregue ao esquecimento. Escritos da época indicam que um cidadão londrino normal associava a área a um espaço desértico, com hábitos primitivos e cheios de camelos. O último acontecimento relevante no local teria sido o Calvário de Jesus Cristo. Além disso, o Levante, região que engloba os atuais Estados de Israel, Líbano, Síria, Jordânia e Chipre, carregava uma fama muito pejorativa na Europa. O próprio Meir Dizengoff, o primeiro e mais importante prefeito de Tel Aviv, afirmou uma vez que iria “retirar Tel Aviv do Levante”.

E havia motivo para este desconhecimento. O Levante era uma região isolada neste tempo. O Império Otomano estava em decadência e fora os peregrinos que visitavam apenas os pontos sacros, poucos comerciantes chegavam a região que tinha para oferecer, praticamente, apenas frutas cítricas. Dessa forma, as notícias e informações relativas ao Levante, não chegavam na Europa, o principal centro da época.

Do Levante para o Mundo

No entanto, quis o destino que o caminho para a projeção de Tel Aviv viesse extamanente atrelando ao local em que se encontrava no globo, com a organização da Feira do Levante, evento que apresentava ao mundo não apenas as conquistas do imigrantes judeus em diversas áreas – agricultura, industrial, comercial, tecnológica, científica e artística –, como também servia para divulgação dos produtos oriundos de economias próximas, ajudando ao desenvolvimento regional e favorecendo a fomentar a paz numa região que já começava a apresentar sinais do que estava por vir.

A Feira do Levante também era uma chance única para empresários estrangeiros de entrar num mercado de uma colônia britânica pouco explorado pelos próprios ingleses, acabar com preconceitos e perceber que Tel Aviv, cidade que muito diziam ser a fronteira mais oriental da Europa, conseguia mesclar muito bem a cultura Europeia com a Oriental.

As pimeiras iniciativas em Israel

No entanto, engana-se quem pensa que esta ideia brotou do nada. Eventos como feiras e exposições, similares ao que ocorreria na cidade de Tel Aviv, já eram comuns em meados do Séc. XIX ao redor do mundo. Jerusalém, inclusive, em função da visita do Kaiser Wilhelm II, quase abrigou a primeira feira internacional da região, em 1898. Conhecida como “Feira Internacional Científica, Industrial e Filantrópica”, no entanto, nunca chegou a ser organzada.

As primeiras feiras que vieram a tomar forma, no entanto, tinham carater de divulgação dos produtos num âmbito mais regional. Depois da Primeira Guerra, feiras agricolas eram comuns em Haifa e a ideia da realização de um evento similar em Tel Aviv começava a ganhar forma.

As primeiras feiras

Eram muitas as razões que motivavam a organização deste eventos. Um dos principais motes era mostrar os produtos do pais, frutos da força de trabalho judaica, mas também de estabelecer Tel Aviv como um ponto de comércio dentro do Oriente Médio.

Nese momento, Tel Aviv tinha poucos anos de vida. Fundada em 1909 e repleta de imigrantes cheios de ideias, a possibilidade de demonstrar ao mundo o sucesso desse empreendimento sionista era algo que empolgava a todos.

Dessa forma, repleto de muito empenho e trabalho, em 1924 surgiu o embrião do que viria a se tornar a Feira do Levante.

Organizada numa escola para meninos, na rua Ahad Ha’am, ela transcorreu de maneira modesta e silenciosa, principalmente para não atrapalhar aos alunos que estavam em suas aulas nas salas ao lado.

Contudo, uma das principais conquistas deste evento foi a participação, sem qualquer tipo de discriminação, dos empresários locias. Árabes e Judeus estavam nesta empreitada em conjunto e, inclusíve, jornais árabes teciam elogios à organização do evento por abrir a porta a todos e não apenas aos habitantes judeus.

Neste momento, era claro a todos que a cooperação econômica entre todas as partes seria o melhor caminho para o desenvolvimento mútuo. Contudo, como veremos mais a frente, na própria história da Feira do Levante, exatamente o conflito entre ambos irá acarretar no fim deste potencial empreendimento.

A  terceira feira, em 1926, já não era hospedada pela escola e pavilhões temporários foram construídos só para recebe-la e, a partir dela, o projeto começou a crescer.

1929

A então IV Feira da Palestina e do Oriente Médio, batizada informalmente como a “A Feira do Jubileu”, por celebrar os 20 anos da cidade já mostrava todo o potencial do evento.

Com o seu sucesso nos anos anteriores, uma área de 36.000 m2 foi reservada à Feira que foi a primeira a contar com um número expressivo de expositores estrangeiros, 120 dos 330. Essa grande diversidade de produtos e culturas também foi um chamariz ao público. Mais de 120 mil pessoas passaram por ela!

Os frutos deste empreendimento começaram a aparecer na feira seguinte.

1932, a Primeira Feira do Levante

A movimentação que a Feira causava já era sentinda ao redor do globo, principalmente nos países do Levante. O orgulho sionista pelo empreendimento era tanto que em 1932 o jornal judaico alemão publicou: O que foi exibido em Tel Aviv hoje não foi direcionado para Jerusalém e Haifa, ou Jenin e Nazaré, mas também para atingir tão longe quanto Bagda, Damasco ou Aman. Todos os países que hoje têm como problema encontrar mercados consumidores às suas economias, podem ver aqui uma oportunidade para uma nova expansão.

E o que este jornal noticiava não era bairrismo. Esta feira, a primeira a ter o nome oficial de Feira do Levante, teve a presença de quase 300 mil visitantes em suas instalações.

Um total de 831 empresas de mais de 20 países estavam dispostas na Feira. Nações europeias como Suíça e os rivais Reino Unido e União Soviética, compareceram no local. Contudo, o mais impressionante eram os países árabes, como o Egito e Síria, e majoritariamente muçulmanas, como a Turquia, que marcavam presença indicando que as tensões locais que vemos hoje nem sempre fizeram parte da rotina do Levante, principalmente quando havia uma possibilidade de ganho financeiro aos envolvidos.

Contudo, a Feira do Levante não se limitava apenas à questão comercial. Foi celebrando o seu início, na data 7 de abril, que a primeira estação de rádio da região, a Rádio Tel Aviv, foi criada. Outro marco cultural foi o lançamento do símbolo oficial da feira, desenhado pelo arquiteto Arieh Elhanani. Substituindo a Gazela de 1925, o Camelo alado iria estampar não apenas o material promocional do evento, mas também se tornaria um ícone da cidade.

Conheça a Lenda do Camelo Voador

1934

Em 1934, aconteceria a maior de todas Feiras do Levante. Celebrando, também o Jubileu de Prata de Tel Aviv, pelos seus 25 anos, ela contou com a presença do Alto Comissãrio Britânico, Sir Arthur Wauchope tanto no lançamento da pedra fundamental da região designada a este e futuros eventos, como também em sua inauguração.

Um local definitivo

O sucesso dos eventos anteriores, principalmente de 1932, motivaram os organizadores a pensar numa feira de carater bienal. Para isso, junto ao arquiteto Richard Kauffman, construiram uma grande área de 100m2 para receber não somente este, mas também os próximos eventos.

Construído junto as margens do rio Yarkon, numa área ao norte do perímetro urbano da cidade, onde hoje temos o complexo do Porto de Tel Aviv (inaugurado apenas em 1936), o projeto de Kauffman, com áreas públicas e espaços livres, além dos galpões destinados aos expositores, seguia o Estilo Internacional proposto pela Escola de Bauhaus. Com suas características marcantes, este grande empreendimento de construção civil iria estimular outras tantas edificações contemporâneas a ela, que, futuramente, iriam levar Tel Aviv ao posto de Cidade Branca e patrimônio da UNESCO por conta deste estílo arquitetônico único.

A Feira foi aberta no dia 26 de Abril, no mesmo dia da inauguração do primeiro aeroporto da região, em Lida.

Como não podeira deixar de ser, a Feira do Levante foi um grande sucesso, sendo a quarta maior do mundo em seu tempo, atraindo mais de 600 mil visitantes com expositores de mais de 30 países, incluíndo seus vizinhos árabes.

Uma novidade neste ano fora o pavilhão libanês, por mais que ainda não fosse um país autônomo. O representante do Líbano, que hoje não possui relações com Israel, elogiou muito o evento, indicando que este tipo de ação era importante para cultivar a amizade tradicional entre dois vizinhos.

O Legado

Hapoel HO legado desta edição da feira, no entanto, não para por aí. Elhanani, o mesmo que havia desenhado dois anos antes o camelo com asas, levantou a escultura do Hapoel HaIvri, o Trabalhador Judeu, este que seria o primeiro trabalho de arte pública da região, desde a chegada dos primeiros imigrantes no final do século anterior.

A Feira do Levante já começava a trazer frutos. Além de seu objetivo principal, de desenvolver a industria local, majoritariamente agrícola, os resultados também eram observados internamente. Era possível notar um grande desenvolvimento cultural e uma aproximação entre as nações levantinas. Contudo, a receita desandou dois anos depois. A executiva Árabe já orientava a sua população a boicotar o evento em 1934. Em 1936, algo ainda maior aconteceu.

1936, a última Feira do Levante

Tudo estava organizado para a Terceira Feira do Levante. Devido ao sucesso de 1934, mais 30 mil m2 foram adicionados ao projeto de Kauffman. 36 países e 4 mil expositores estavam confirmados, sendo quase 70% destes internacionais. Uma exposição de animais, que viria a se tornar o futuro Zoológico de Tel Aviv, e um parque de diversões, o Luna Park, já estavam de pé esperando pelo evento quando tudo começou a tomar um novo rumo.

A Grande Revolta Árabe

A Década de 30 havia chegado na Alemanha com o surgimento do Nazismo. Os judeus alemãs se juntaram aos tantos outros judeus no êxodo da Europa em direção a outros países em busca de refúgio e segurança. A cada ano, o número de judeus aumentava num volume muito alto, para desconforto dos árabes locais. As ideias sionistas de um Estado independente e a própria Declaração de Balfourt também deixavam a população, que se identificava como nativa, ameaçada. O resultado deste caldeirão foi uma grande revolta, conhecida como A Grande Revolta Árabe, que se iniciou em abril deste ano e se pronlongou até 1939.

Além das grandes manifestações e ataques aos britânicos e judeus locais, que gerou um clima de insegurança na região, os trabalhadores do porto de Jaffa começaram uma greve geral, que durou de abril a outubro. Com isso, boa parte dos expositores internacionais, não conseguiram comparecer.

A feira, que estava prevista para acontecer de 30 de abril até 30 de maio ocorreu mas sem todo o brilho dos eventos anteriores. O próprio Alto Comissário, em seu telegrama enviado aos organizadores em 25 de Maio de 1936 deixou isso bem evidente: Congratulo os organizadores e também os cidadões pela louvável demonstração de energia, determinação e confiança que não permitiram que as dificuldades temporárias encontradas localmente interfirissem nos negócios de Tel Aviv, ou no sucesso da Feira do Levante.

Após o evento

Ao final, a Feira do Levante de 1936 foi considerada um fracasso em todos os âmbitos. Todo o potencial para o desenvolvimento econômico, não só do então protetorado britânico da Palestina, mas de todo o Levante havia se extinguído. Bem como as boas relações entre as nações levantinas.

Os grandes pavilhões passaram, por um breve momento, a hospedar movimentos culturais, ocorrendo neles o primeiro concerto da Filarmônica Israelense. No entanto, posteriormente, tornaram-se apenas galpões para uso do Porto, construido no local ainda em 36, e para uso militar, tanto na Segunda Guerra, pelo Britânicos, como na Guerra de Independência, pelos Israelenses.

Depois de muito tempo em abandono, o local voltou a chamar a atenção das autoridades. Em 2001 passou junto com toda a região portuária, por uma total revitalização, tanto dos prédios como da famosa estátua do Hapoal HaIvri.

Pós Independência

Por mais que a Feira do Levante tenha acabado em 36, o seu legado continuou vivo na cidade de Tel Aviv. Ela seria a precursora da Expo Tel Aviv, que acontece desde 1959, tendo recebido mais de 2.5 milhões de visitantes e abrigado, de 45 a 60 eventos anualmente.

Estudar a história da Feira do Levante é uma forma de entender a dinâmica desta região do globo. Entre altos e baixos, é nítido para todos que quando as nações estiveram empenhadas num desenvolvimento comercial conjunto, a boa relação entre todos imperava. Estímulos à economia deveria ser principal arma na hora das negociações de paz. Todos os participantes tinham total noção que a prosperidade de Tel Aviv iria, conjuntamente, trazer benefícios econômicos a todos os vizinhos, não apenas aos judeus. No entanto, fatores externos falaram mais alto e, desde então, os negócios entre os países levantinos não se desenvolveram com tanta prosperidade. A expectativa de todos é que num futuro próximo possamos ver Síria, Líbano e Israel lado a lado. Não só em feiras de comércio internacional, mas também no caminho à paz.

Ilan Administrator
Guia de Turismo

Em Israel desde 2018, é nativo do Rio de Janeiro. Guia de turismo formado, tenho formação em Biologia e Marketing. Apaixonado por Israel e pela Natureza

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